Por Alessandro Moura
Uma figura inquieta, voz rouca e que sobrevive aos tempos do fazer teatral com estética própria e uma forma muito peculiar de ver o mundo. O diretor Gerald Thomas é de fato um ser intrigante. Famoso pela parceria com Samuel Beckett, Thomas divide seus caminhos entre o Brasil, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Atualmente realiza um ciclo de debates sobre sua obra no Teatro Poeira, em Botafogo.
Já se passaram três dias desde que começamos os diálogos com Gerald e ainda faltam mais três, o fato é que o questionamento sobre o teatro contemporâneo passa a ficar ainda mais forte quando nos vemos diante uma criatura como Gerald. É impossível deixar de citar que sua obra está tão ligada a sua vida que ambas se fundem e se misturam sendo apenas uma coisa.
É fato que ouvir Thomas e suas histórias não é apenas conhecer o seu teatro, mas a história do teatro internacional. Mas é claro que o gênio parece estar cada vez mais cansado de dividir seu teatro e o que o motiva fazer teatro. Aparentemente o diretor se cansou de escutar sempre as mesmas perguntas e talvez dar as mesmas respostas. Tudo isso ainda nos motiva a escutar e tentar penetrar neste mundo avassalador.
Como disse desde o principio Gerald Thomas nos instiga e nos faz questionar o nosso próprio teatro. Apesar disso o diretor afirma que não gosta de sua arte, não gosta do que produz e que nunca assistiu um espetáculo seu de frente. Gerald tem um jeito diferente de dirigir, seu trabalho é feito com proximidade dos atores e a composição parte da cena e não dos textos.
Quando questionado sobre seus textos é categórico em dizer que não quer que ninguém monte um texto seu ( por isso talvez nunca tenha publicado um deles). “ Tudo nasce junto. Luz, cena....tudo...”, ressalta Gerald.
O diretor que faz questão de dizer que não faz parte da grande fábrica da mídia e que tem honra de estar longe da TV e do Cinema parece sem coerência ao trabalhar com atores que nada estão próximos ao anonimato. Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Tônia Carreiro, Marco Nanini, Marília Gabriela , Reynaldo Gianecchini... Thomas se sente ofendido com a colocação e afirma que os atores com quem trabalhou não eram famosos quando suas peças entraram em cena ou que foi convidado para dirigir ( apesar disso sai pela tangente quando repito a colocação colocando em foco Marília Gabriela e Reynaldo Gianecchini que não tem uma história de teatro e sim de vídeo).
A relação do ator com o dinheiro e o off Broadway parecem estar mais na filosofia do diretor do que de fato nas ações. Levar cultura a outro lugares e fomentar a formação de plateia parece algo distante de suas convicções artísticas.
É ainda difícil dizer se as impressões são verdades absolutas e se o personagem Gerald Thomas ainda deve mostrar a que de fato veio ao Rio. É impossível saber ainda como essa visita deve reverberar no fazer artístico de quem o escuta. O fato é que instiga e nos faz refletir qual é o papel do artista e o porque de se fazer arte. O diretor afirma que só faz teatro porque não sabe fazer tricô.
Com o nome escrito nas páginas da história das artes cênicas e com tantas outras histórias, fico feliz porque Gerald não sabe tricotar, mas confesso que ainda espero conhecer o artista por trás da personagem.