Na última segunda-feira (26.03), houve a última apresentação da temporada do monólogo “Rosa”, interpretado por Débora Olivieri, no Centro de Cultura Judaica Midrash, no Leblon.
O belo texto de Martin Sherman foi levado às últimas conseqüências na interpretação dada por Débora. Antes mesmo do início do espetáculo, o público já podia sentir a presença envolvente da velha Rosa, que aguarda a entrada da platéia sentada em uma cadeira. Após o fechamento das portas, quando Rosa começa a contar sua história, viaja-se desde as primeiras décadas do século XX, em uma vila eslava, passando-se pelos horrores do Holocausto, a formação do estado israelense, os conflitos no Oriente Médio e, por fim, chegando-se aos Estados Unidos da América do século XXI.
O público teve o prazer de chorar e rir com Rosa, pois apesar de toda a tragédia que é a história de sua vida, ela não perde a graça, a ironia e o prazer de ainda estar vivendo. Nos primeiros minutos do espetáculo, sente-se uma tênue estranheza na interpretação de Olivieri, mas ela acredita tanto na força da personagem e a sustenta visceralmente até o último minuto, que logo você acredita que está em frente a uma senhora judia de mais de oitenta anos com mal de Parkinson. Outro fato que talvez tenha colaborado para a expressividade tão apurada e verossímil da atriz no que tange às questões judaicas seja em razão de a mesma ser judia e, portanto, conhecer com afinco o peso da narrativa que trouxe.
Foi um dia emocionante, tanto para o público quanto para Débora, e percebia-se no final da peça os olhos marejados de várias senhoras, que eram a maioria no espaço. Talvez tenham chorado por alguma reminiscência que veio à tona, talvez por partilharem da dor e da ironia de tantas Rosas pelo mundo ou, simplesmente, como este que vos escreve, apesar de ser um grande admirador da cultura e da tradição judaica, saiu extasiado do Midrash por ter sido insuflado com a criação artística que se manifestou naquela uma hora e meia.
O espetáculo deve seguir temporada em São Paulo no próximo ano.