O espetáculo “A Carpa”, com dramaturgia premiada em concurso promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), volta aos palcos cariocas depois de rodar o Brasil em 2012, quando passou por várias cidades do Rio Grande do Sul, Brasília, Belo Horizonte e Florianópolis. A montagem será a estreia do horário nobre na programação da ocupação ‘Dulcina abre o Pano’, do Teatro Dulcina (Cinelândia). A primeira apresentação está marcada para a próxima sexta-feira (12), às 19h. A peça fica em cartaz até o dia 28 do mesmo mês, de sexta a domingo, sempre no mesmo horário.
Para a atriz Ivone Hoffmann, intérprete de uma das personagens, a volta ao Rio só comprova o sucesso da montagem. “’A Carpa’ estreou em 2010 e, desde então, não paramos. Depois da temporada carioca, passamos por 10 cidades brasileiras com o apoio da Petrobras”, diz. A expectativa agora, segundo ela, é de atrair um público variado. “Cada um vê de uma forma diferente. Alguns, principalmente a comunidade israelita, recebe a história pelo ângulo do sofrimento, da migração. Outros focam na relação entre mãe e filha. O público, em geral, se diverte, se identifica”.
No palco mãe e filha, interpretadas respectivamente pelas atrizes Ivone Hoffmann e Anna Cotrim, confrontam suas diferentes visões de mundo: a mãe ainda carrega as tradições dos guetos de seu país, a Rússia, e a filha aculturada, que se casou com um gói (“não judeu”). Muito embora a trama se divida entre a Rússia dos anos 1920 e uma São Paulo quase contemporânea, a ação central se passa na véspera do Pessach (a Páscoa Judaica), enquanto as duas mulheres preparam um peixe para a celebração.
A receita do guefilte-fish é o símbolo dessa tradição que segue adiante, mesmo com eventuais adaptações. Na peça, é esta tradição que move mãe e filha, sempre com a dúvida: manter ou mudar? Elas discutem, debatem, mas se amam. Qual a relação mãe-filha, judias ou não, que não passa por toda uma possível escala de confrontos e aproximações?
“Elas poderiam ter qualquer religião. Seria a mesma coisa”, explica o diretor Ary Coslov. Ele dá sentido também à data do Pessach, que serve de ambientação à peça. A comemoração celebra a libertação, a busca por um mundo melhor. Ainda de acordo com Coslov, isto é o que, cada uma ao seu modo, as duas personagens procuram.
A história em muito se parece com a vida das autoras do texto, Denise Crispun e Melanie Dimantas, ambas com ascendência judaica. Seus pais e avós vieram fugidos da Europa – da Rússia, Polônia e Bessarábia -, trazendo na mala suas próprias tradições. As duas, apesar de levarem uma “vida laica”, quando crianças, tinham de cantar o “Manishtaná” (melodia tradicional) na celebração do Pessach. A peça, então, traz muito da vivência das próprias dramaturgas, tanto no embate cultural das diferentes gerações quanto na relação mãe-filha.