Na sexta montagem que fará de "Rigoletto", uma das óperas mais conhecidas de Giuseppe Verdi, que abriu a temporada lírica do Teatro Municipal neste domingo, às 17h, o diretor ítalo-brasileiro Pier Francesco Maestrini optou por reforçar o tom dramático da peça e o perfil psicológico dos personagens, segundo ele, "envoltos numa culpa hereditária".
Seu "Rigoletto", assim, deve enfatizar as falhas de caráter e as entrelinhas que tanto incomodaram a nobreza no ano de sua estreia, em 1851, quando chegou ao palco do La Fenice, de Veneza, já com cortes e a troca do papel de um rei devasso por um duque - não pouco libertino, mas ao menos sem o título de rei.
Não foi apenas o roteiro incômodo de "Rigoletto" que fez a ópera de Verdi tão conhecida - é nela, por exemplo, que está a popular ária "La donna è mobile". No campo histórico, "Rigoletto" representou um marco no repertório de Verdi e abriu caminho para uma nova fase da música lírica em geral. A ópera rompia com tradições não apenas pelos tipos de personagens, como o corcunda, mas por subverter o padrão das óperas de então, de árias melódicas seguidas por cabaletas (uma ária de canto difícil, na qual o cantor mostra a sua habilidade).
- Verdi rompe com essa estrutura e dá força à dramaturgia. Não se prende ao canto virtuoso ou à técnica e leva ao palco um argumento bastante incômodo - diz Maestrini, que, em 2010, viajou pelo Brasil com "O barbeiro de Sevilha", acompanhado do maestro John Neschling.
Em "Rigoletto", a Orquestra Sinfônica e o Coro do Teatro Municipal serão regidos pelo maestro português Osvaldo Ferreira. Os barítonos Roberto Frontali, italiano, e Rodolfo Giugliani, brasileiro, revezam-se no papel-título, num elenco que traz, entre outros, as sopranos Artemisa Repa e Lys Nardoto e os tenores Fernando Portari e César Gutiérrez.
A escolha de "Rigoletto" para abrir a temporada lírica do Municipal, com cinco récitas até o dia 15, se deve, segundo a direção do teatro, à "beleza musical e forte carga dramática" da obra. Inspirada na peça "Le roi s'amuse" ("O rei se diverte", em tradução livre), de Victor Hugo, "Rigoletto" tem no bobo da corte seu protagonista, que é amaldiçoado ao zombar da dor do Conde Monterano, que teve a filha desonrada pelo devasso Duque de Mântua.
O bobo, então, teme que a maldição recaia sobre sua filha Gilda, que também acaba seduzida pelo duque libertino. Na tentativa de protegê-la (numa forma bastante reduzida de explicar todos os rodeios da ópera), Rigoletto vê Gilda ser morta. O que ocorre com ele ao se deparar com tamanha dor, segundo o diretor, é outro momento de ênfase na montagem do Municipal.
(Fonte:Agência O Globo/ Fotos: Alessandro Moura)