Armazem brilha com a remontagem de Alice
A Armazem Cia. De Teatro, comandada pelo diretor Paulo de Moraes, está completando 25 anos de fundação e, para comemorar, retomou uma de suas mais fantásticas – literalmente – montagens, “Alice através do espelho”, da obra de Lewis Carroll, de 1998, que está em cartaz na sede da Companhia, na Fundição Progresso.
Trata-se de um trabalho primoroso, no qual se destaca, sobretudo, a engenhosidade do espetáculo desenvolvido por uma companhia. O público, para além da pretensão de ir ao teatro assistir comodamente um espetáculo, tem que estar disposto a participar do jogo que lhe é proposto e, a partir disso, se estabelecerá uma incrível viagem de descobertas, alucinações e fantasia.
Paulo de Moraes, em sua exagerada e humana teatralidade, desbrava o espaço de todas as maneiras que lhe é possível, movendo tetos, chãos, cortinas, gentes, cenários, sons, luzes, sem pudor ou receio, tornando inevitável a catarse. Moraes é exitoso ao reproduzir uma encenação nonsense tal qual Carroll em seu clássico.
Na interpretação, Lisa Favero, que vive Alice, se sai bem com seu tom arcádico e nada excepcional, sendo que, justamente em razão disso, se contrapõe à loucura dos demais personagens e ao histerismo do restante do elenco. Patrícia Selonk, interpretando o Chapeleiro Maluco, é ótima, apesar de muitas vezes gritar histrionicamente feito uma pregadora pentecostal. Patrícia possui uma verdade tão profunda e sincera em suas interpretações que chega a assustar. É de se destacar, ainda, a sagacidade de todo o elenco em manter de pé a maratona que é o espetáculo.
Os figurinos, coloridos e exagerados – exceto o chapéu do Chapeleiro, que ficou aquém da sua importância –, reproduzem elegantemente o mundo fabuloso de Carroll. Já o cenário, acaba perdendo um pouco seu espaço e melhor aproveitamento em razão das várias mudanças de ambientação que ocorrem. A iluminação se encaixa com acerto, ajustando toda a encenação.
É mais um espetáculo grandioso da Armazém que vale a pena ser visto e aplaudido.