CRÍTICA | Amigos à Parte

Amigos à Parte

 

Em um dia conturbado vivido por quatro amigos, que dividem há anos um apartamento, que um novo pacto de amizade é jurado, lacrado e sacramentado. Morando juntos desde a époica do colégio, eles resolvem ter uma "DR" (Discussão de Relação), depois que o caçulinha do grupo anuncia, em cima da hora, que no dia seguinte irá se mudar para o Japão devido a uma nova oportunidade de trabalho, e bem remunerado.

 

Uma promessa ao estilo de "Um por todos e todos por um", de que os quatro companheiros nunca iriam se separar, que um sempre cuidaria do outro se quebra e verdades e segredos são revelados e as amizades começam a passar por um amadurecimento e os garotos começam a se tornar homens e olharem mais pras suas vidas e suas histórias passadas.

 

John, Paul, Ringo George, quer dizer Plínio, Dude, Jota e Caco. Assim como os quatro companheiros de Liverpool essa meninada dá um show de talento e se mostram maduros e confiantes em seus personagens. Tanto que com piadas novas, situações inimágináveis e sem precisar do apelo de se exibirem como jovens bonitos e sarados eles levam ao delírio a lotação do Teatro das Artes no Shopping da Gávea, onde a peça está sendo apresentada apenas ostentando o que atores de verdade precisam ter, talento, técnica e carisma.

 

Não é fácil em plena quarta feira, pré carnaval, um grupo de rapazes que poucos são conhecidos da grande mídia e que vêm em um crescimento constante se apresentarem e levarem dezenas de pessoas, em sua grande parte de adultos pagarem para os assistirem, embora a peça seja de jovens pra jovens. Mas é isso o maior motivo de orgulho e alegria, os adultos se sentem agraciados e se divertem sem freios ou tabús.

 

O público jovem então nem se fala, gargalha histéricamente, aplaude em cena aberta e se sente representado e reconhecido em muitos dos diálogos e situações. Uma coisa bonita nessa peça e que chegou até a me emocionar é a despreocupação total em se utilizar de sentimentos humanos e o amor entre amigos e homens ser citado, sentido e demonstrado de forma corajosa, verdadeira e única. Eles não se preocupam se ao se abraçarem, se beijarem e dizerem "Eu te amo, " alguns poderão interpretar de forma errônea e preconceituosa, pelo contrário, eles brigam por ciúme, por uma dependência afetiva e até mesmo por individualidades de personalidade.

 

A peça conta com vários pontos altos, um deles é quando o Dude fala do seu vestibular, com gestos rítmicos e bem coreografados, o rapaz da um show, se mostra super versátil na aplicação da técnica de gestos precisos, marcantes e coreografados. Uma cena que é tão engraçada que depois é utilizada depois por eles em outra situação é a da briga, onde até em Slow Motion eles conseguem se estapear e dão destaques às suas caretas e situações ridículas, mas o ponto alto da peça é sem dúvida a homenagem que eles fazem aos filmes: Matrix, Cantando na chuva, Jogos Mortais (Com Calypso), Poderoso Chefão, Psicose, Karatê Kid, Rocky, Flashdance, Superman, Rei Leão (Com Suzana Vieira), ET, Vingadores e o melhor de todos, onde ninguém se segura, Frozen, onde com desodorantes eles fazem um verdadeiro show e isso é hilário.

 

A trilha sonora assim como a direção musical de Lohran Leucas são muito bem trabalhadas e escolhidas, são músicas gostosas, que perpetuam em nossas mentes e nos fazem voltar no tempo e com certeza, toda vez que formos ouvir, nos lembraremos da peça, isso sem falar em muitos momentos que a trilha  é essencial, como na hora das representações dos filmes. Quem não fica pra trás também é o trabalho primoroso do Guilherme Penedo, a iluminação é fantástica, muito bem projetada e que faz dessa peça uma busca por sentimentos e emoções não só do elenco como também de quem assiste, nos momentos de fortes emoções dos atores, onde com um talento sem igual eles conseguem chorar e transparecer emoção verdadeira, a luz bem aplicada e direcionada é uma forte aliada.

 

O texto, a direção e também os figurinos bem marcados e direcionados a cada um dos atores é tudo fruto de uma mente prodigiosa do atencioso, profissional e simpático Matheus Brito que soube pesquisar muito bem nas rodas dos jovens características que não fossem absurdamente caricatas e que passassem a idéia do que cada um ali desejasse transmitir, e ele conseguiu, isso sem falar na direção limpa e que aproveita o melhor desse elenco, quando é necessário chorar, todo um processo anterior é aplicado de forma que os atores consigam se estruturar e buscar um sentimento mais profundo que os ajudem a transmitir toda uma dramacidade precisa e necessária.

 

Quanto aos atores, cada um possui uma marca e uma qualidade bem atípica e própria. Matheus Monteiro, de início se mostra bastante frágil, nerd e até mesmo bobinho, mas em cena eles desconstrói e constrói novamente seu personagem, tornando ele em algo mais maduro, firme e com suas imperfeições e qualidades. Marcos Gonçalves, o menorzinho de todos, somente em estatura pois em talento, esse menino é um fenômeno, ele juntamente com o Nicola Peluso, são a parte divertida da peça, ele faz caretas, tem um aproveitamento corporal perfeito pras suas autações cômicas e isso sem falar que quando exigido, consegue ser sério e emotivo.

 

Magno Navarro o mais velho e adulto, dos quatro, consegue ser o núcleo das emoções e do alto controle, com uma técnica pouco encontrada no meio teatral, ele consegue fazer o cara certinho, intelectual e trabalhador sem cair em algo fácil, caricato ou mesmo pedante, ele tem uma inteligência como ator e sabe aproveitar com sua postura, sua facilidade de se expressar e mesmo sua aparente tranquilidade em atuar.

 

Por fim o que falar de Nicola Peluso ?  Tudo o que se falar será pouco, esse garoto é responsável pelos momentos mais engraçados e também mais tristes da peça, a emoção que ele passa quando chora é genuína, nos faz chorar realmente, ele é o centro da trama, o mais incompreendido, o que mais se anula pela amizade e presença dos demais, já jovem e com tanto talento, daqui alguns uns anos, cuidado Santoro, Serrado e cia...

 

Pra terminar quero ressaltar que a peça também acontece fora do palco, tem momentos que eles descem pra platéia, quebram de vez a 4ª parede e começam a circular no meio de todo mundo, botando o terror e paquerando todas as mulheres presentes, com as cantadas mais chulas e nojentas, mas que arrancam risadas certeiras e generalizadas, tais como: "-Seu nome é Tamara? Porque você tá maravilhosa...", "Olá me chama de tamagoshi e vem cuidar do meu bichinho..." e lembrando que até mesmo no Carnaval eles irão continuar com a peça, na quarta feira de cinzas. Não percam, diversão garantidíssima.


Por João Loureiro Filho
 

Serviço: Clique aqui

Temporada: 07/01/2015 até 25/02/2015

Local: Teatro das Artes

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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