CRÍTICA | O Corcunda de Notre Dame

O Corcunda de Notre Dame - Somos Todos Diferentes

 

 

Com um visual completamente circense e moderno, o espetáculo “O Corcunda de Notre Dame” cuja supervisão é de Heloísa Perissé e a direção fantástica e muito bem realizada de Pedro Valério, tendo como responsável pela produção do espetáculo Roberta Marinho Duarte da Setembro Produções , ambos reúnem o melhor e mais clássico das antigas e bem sucedidas Commedias Dell’Arte, com muitas piruetas, máscara, maquiagens bem produzidas e textos conexos e independentes.

 

O palco nesse espetáculo é preenchido em 100% na maioria do tempo, sempre com bastantes personagens, cores, muito movimento e principalmente muita entrega de todos os atores, que se extravasam de corpo e alma desde uma pré divulgação e panfletagem pelos corredores do Shopping da Gávea, até o momento final, onde recebem valorosos e calorosos aplausos de uma plateia satisfeita de pé.

 

Uma peça recheada de excelentes marcações e atrativos, seja pelos belíssimos, coloridos, luxuosos e bem confeccionados figurinos de Fernanda Lima, seja pelos formidáveis maquiagens detalhadas e minuciosamente adequadas ao texto e aos personagens frutos de uma capacidade profissional de Ernane Pinho ou mesmo por um cenário fantasticamente mutável e Ornado, que se adapta sempre às novas cenas e colabora para o desenrolar do texto e a atuação de um elenco de primeira linha, O cenário é de Pedro Valério.

 

A direção de vários setores dessa peça e inclusive a direção geral se dá pelo também ator Pedro Valério, que dentre tantos talentos se dedica à fazer desse espetáculo uma grande obra prima de sua carreira. Muitas vezes a centralização de vários setores em uma só pessoa acaba fadada ao fracasso, mas Pedro, tem uma grande sensibilidade cênica e soube enxergar de forma completa e única uma dimensão teatral pro seu trabalho rico e ostentoso.

 

Com um palco pequeno e muitos elementos cenográficos, ele consegue de forma genial criar marcações de entradas e saídas, assim como permanências em out que as vezes parece estarmos vendo dois ou 3 espetáculos consecutivos, a coxia é plenamente explorada de forma à estar sempre disposta e jogando ao público um novo elemento crucial na trama. Com cenas fechadas e bem centralizadas, o foco de cada subtrama fica bem aos olhos atentos da plateia.

 

As coreografias de Carlos Fontenelle são diversificadas, ousadas e muito firmes, com terminações e acabamentos visíveis e pontuais. As composições de Bruno Camuratti são de fácil compreensão e estimulam o bis e a participação da plateia de forma à fazer crescer a interação entre público e palco, elas dão um toque especial ao espetáculo onde juntamente com a primorosa direção musical de Thiago Garcia e a lindíssima trilha de Wagner Monaco fazem dessa peça não só um espetáculo infantil, mas também um delicioso e harmônico musical.

 

Um diferencial nesse espetáculo que chama muita atenção é a inserção de máscaras e bonecos apresentados em cena, todos de criação e responsabilidade de um talentoso artista de nome Bruno Dante, o que corrobora pra peça ser sempre um apanhado de talentos, sendo eles na direção, produção, realização, operação e atuação.
 

A luz desse espetáculo fica a cargo também de Pedro Valério, um excelente jogo de luzes, com cores bem predefinidas e marcantes, que se fazem presentes em momentos de unidade com a sonoplastia enxertando assim no conteúdo uma gama de possibilidades dramáticas e de ação, bem exploradas e utilizadas na peça.
 

A peça tem Dança Flamenca, Sapateado, Funk, Rock, enfim, toda uma vasta coletânea de ritmos e danças que agradam e deixam o público sempre atento e desperto para as novidades apresentadas, as crianças ficam ligadas e espertas pra tudo que acontece, entregando cada novo acontecimento e seu desfecho, elas narram aos pais e se sentem parte da história, torcem, vibram e gritam com cada novidade.

 

O elenco fica por conta de inúmeras estrelas, Pedro Valério é uma delas, ele faz o protagonista Quasímodo, que é o corcunda de Notre Dame, de forma carinhosa, meiga e fofa ele desperta a compaixão de todos com sua docilidade e presença carismática. 

 

Felipe Simas encanta de forma à interpretar o grande herói e o conquistador do coração da grandiosa Cigana Esmeralda. Simas em nada lembra seu personagem em malhação, mostra bravura, honra e uma excelente postura fisica e corporal, inclusive se empenha em expressões e gestos delicados mas firmes e virís.

 

Claudio Gardin interpreta um personagem mais experiente e por isso merecidamente entregue ao ator, cheio de nuances, a figura do Monsenhor consegue ser bondosa, má, preconceituosa e egoista, tal qual a realidade vivida por grande parte de uma sociedade envolta em dogmas e tabus. ele não se atém a uma personalidade única e suas feições convencem quando há essas mudanças.

 

Fernanda Biancamano (Cigana Esmeralda) de uma forma madura, bem à vontade no palco e dominando cada cena e cada fala, como quem realmente estivesse vivenciando cada ato de sofrimento, cada conquista e cada luta. De personalidade forte sua personagem se mostra justa e carinhosa, firme e de conceito muito definido pela liberdade e pelo amor ao próximo.

 

As participações de Lorena Ramos e Marcelo Klein são de um afago ao público, eles são engraçados, talentosos, dinâmicos e sempre muito presentes em cada cena em que atuam (quase a peça inteira) servem de escada pros outros atores, mas também desempenham cenas próprias e de grande contribuição ao espetáculo. Suas Gárgulas são carismáticas e divertem a criançada com o lúdico e com um delicioso besteirol, isso sem falar que a dupla formada por eles é tão intensa que parece ser um único personagem em cena.

 

Nando Moretzsohn  faz uma participação pequena mas de grande presença Como um jovem arauto e Bobo da corte, a interpretação circense do jovem ator é alegre e mostra seu bom desempenho corporal.

 

Outra participação figurativa mas com toda sua importância é do ator Pedro Carrera que interpreta um auxiliar da guarda e que quando se finge de Gárgula se faz engraçado e causa uma leve tensão na trama. 

 

O texto é de uma adaptação de Pedro Valério ao famoso e clássico conto que já foi inclusive um desenho animado da Disney Produções. A história de uma criança assustadoramente feia e deformada que teve sua sentença de morte decretada, porém salva por um monsenhor que compelido e solidário ao tal bebê, lhe poupou a vida, porém o impondo à uma eterna e vitalícia clausura dentro dos domínios de sua capela. O bebê monstro cresce e juntamente crescem sentimentos nobres, belos e uma vontade de se juntar ao cidadãos de sua cidade, que ele só acompanha pelos telhados e frestas de sua moradia. Ele se apaixona por uma Cigana, porém tem de disputar esse amor com um belo e forte capitão. O jovem sofre seus preconceitos, é injustiçado e quase morto. e daí vários ganchos se fazem presentes e apresentam os rumos da história.

 

A peça passa uma mensagem muito bonita que se perpetua nas conversas e nas observações das crianças e de seus responsáveis, de que toda a forma de preconceito e bullying é prejudicial, que é legal ser diferente, que as diferenças existem e enriquecem o mundo e que podemos ser felizes sem sermos individualistas e tendenciosos. Um delicioso espetáculo teatral com músicas empolgantes e dinâmicas como toda a peça. Uma ótima dica pra toda a família assistir junta.

 

Por João Loureiro Filho

Peça: O Corcunda de Notre Dame - Somos Todos Diferentes

Temporada: Até 26/07/2015 - Teatro Vannucci

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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