CRÍTICA | Mamãe

Monólogo tocante é cheio de méritos

 

"Mamãe" é o monólogo em que Álamo Facó, a partir do processo investigativo por ele chamado de "A síntese do relevante", apresenta algumas reflexões estéticas surgidas do fato real do falecimento de sua mãe. Em 2010, a arquiteta Marpe Facó Soares Drummond foi diagnosticada com um tumor no cérebro e faleceu cem dias depois, deixando três filhos - o ator Álamo entre eles. O espetáculo, com muita sensibilidade, torna um fato particular um motivo para celebrar a vida de um modo geral. Poético, tocante e sensível, a peça esteve em temporada durante o mês de dezembro na Sala Multiuso do Espaço SESC Copacabana e seguirá em cartaz no Teatro Sérgio Porto a partir de 9 de janeiro de 2016.
 
Excelente uso das marcas de performance 
Na dramaturgia dessa performance, o ator Álamo Facó modificou o nome real da personagem de Marpe para Marta. Os três filhos aparecem na narrativa como se fossem apenas um, chamado Lázaro. Outros aspectos também ganharam, na ficção, novos contornos. O mais relevante, enquanto discurso estético, é o modo como, em primeiro lugar, todos os elementos aparecem embasados em um conjunto bem articulado de marcas. Elas são capazes de criar suatentação para cada novo gesto acontecido em cena, amparando um excelente desenvolver das ações. Depois, com méritos, Facó sustenta uma poderosa névoa entre o que aconteceu fora e dentro da ficção, servindo-se do conceito de performance para fisgar a atenção do público. A dificuldade em saber o que é personagem e o que é vida "real" faz toda a diferença no modo positivo como a audiência se envolve com o espetáculo.
 
No que diz respeito à encenação, "Mamãe" se utiliza com potência de vários elementos para apresentar o espetáculo de modo mais profundo. Dirigido por Facó e por César Augusto, o ritmo propõe e mantém um clima confortável que talvez seja capaz de atingir o público mais diretamente no trato com um tema tão difícil quanto a morte da própria mãe. Longe de ser um dramalhão pesado e superficial, o monólogo traz o acontecimento ainda terrível, mas com certa naturalidade que o deixa profundo.
 
O cenário de Bia Junqueira, articulando cadeiras de policarbonato, fumaça e luzes vermelhas, azuis e brancas sustenta o contexto de representação, envolvendo o espectador que passa a colaborar mais efetivamente com os acordos da narrativa. Em outras palavras, o público não apenas vê a peça, mas participa ativamente dela transformando o quadro geral disposto no palco na sala do hospital e nos demais ambientes onde a história se dá. Ao optar pelo não realismo, Junqueira convoca a plateia para, através dessa postura mais ativa, sentir-se parte de um contexto que irá emocioná-la, atribuindo-lhe sentido.
 
A trilha sonora de Álamo Facó e de Rodrigo Marçal, o figurino de Ticiana Passos e a luz de Felipe Lourenço mantêm lugares escuros e não vestidos onde se é possível respirar além de referências mais populares que ratificam a fluência dos acordos, a oxigenação da obra e o ritmo alternado e vivo. Todos os elementos estão envolvidos em um conceito bem amarrado que movimenta a estrutura do espetáculo com força.
 
Monólogo sobre o valor da vida
É bonito ver como "Mamãe" deixa de ser sobre o falecimento de Marpe Facó e passa a ser sobre o valor da vida, cuja importância contraditoriamente fica nítida na possibilidade da morte. Um fato particular, privado, individual se torna, através da arte celebrativa que é o teatro, onde seres humanos desconhecidos se encontram, algo universal. Não há dúvidas de que esse resultado aponta para os méritos dos realizadores e também daqueles que participaram da realização no momento da peça. Fica a certeza de que esse é um ótimo espetáculo. Parabéns!
 

Por Rodrigo Monteiro

Peça Mamãe / Temporada de Dezembro de 2015

 

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