Paulo Mathias Jr. está ao lado de Dani Barros no pódio das melhores interpretações do ano em monólogo, ela em um drama-documentário e ele em uma comédia engraçadíssima, de que aqui se tratará. “O Cara”, que tem texto e direção de Miguel Thiré, leva ao palco apenas um ator, interpretando vários personagens na narração da vida do publicitário Getúlio da Silva Batista, um dos homens mais ricos e mais jovens do planeta.
É verdade que apenas Paulo Mathias Jr. daria conta de providenciar ao público bom divertimento. O ator apresenta movimentos mínimos tão bem desenhados quanto os mais expansivos, movimenta-se com presteza e complexidade no palco, além de mostrar seus personagens com marcas muito específicas na expressão facial e corporal. No entanto, em “O Cara”, é desleixo não prestar atenção nos outros detalhes. A iluminação de Felipe Lourenço atua no sentido de auxiliar o espectador a identificar as diversas situações, mas o ritmo perfeito com que os spots se apagam e se acendem dá movimento, graça e beleza ao conjunto de forma ímpar. O figurino de Elisa Faulhaber une a história de um ponto a outro: aos 27 anos, Getúlio Batista ganhava o terceiro prêmio de Publicitário do Ano e, aos 30, era um dos homens mais poderosos do mundo. Jovialidade e despojamento, assim, estão próximos de classe e requinte nas roupas que o personagem veste. Além de tudo, a trilha sonora é um dos elementos mais especiais da produção. Em “O Cara”, a música vem do jeito como Paulo Mathias Jr. articula as palavras, dá forma para as frases, compõe as vozes e, a partir delas, dá a ver os personagens. A supervisão artística de Elena Constantinovna, responsável pela fala cênica, resulta, desse jeito, em um trabalho singular de excelente valor estético. Miguel Thiré, que assina a união de todas essas qualidades em um todo único e diegético, finca um espetáculo de altíssima qualidade na programação teatral carioca a guisa da simplicidade visual de sua produção.
Quando a história começa, Getúlio já é um profissional de sucesso no mercado publicitário. No texto de Thiré, a força que leva o herói a ir adiante é a ambição. Getúlio quer estrelar na capa da Revista Forbes como um homem poderoso em todos os cantos do mundo. Com bons desafios vencidos na narrativa nas primeiras cenas, além do fato de que há apenas um ator sem cenário para a construção cênica disso tudo, a narrativa torna-se mais superficial na medida em que a história se aproxima do seu fim. Depois dos sessenta minutos, quando Getúlio é entrevistado em um programa de televisão, um dos melhores momentos da peça, “O Cara” vai se tornando uma história previsível, enlatada, negativamente moralista. A curva descendente do texto, contado além dos noventa minutos, faz chamar a atenção ainda mais para a beleza dos trabalhos de Faulhaber, de Lourenço, de Constantinovna, de Thiré e, sobretudo, de Paulo Mathias Jr. que sustenta com galhardia a narrativa até o fim. O homem mais rico do planeta descobre a simplicidade enquanto o teatro, aqui, se reencontra com o que de seu há de mais puro: o palco, o ator e o público.