CRÍTICA |

-Oi, eu estou te deixando!

“A Peça do Casamento” poderia ser apenas mais um texto clichê sobre relacionamentos conjugais com uma interpretação baseada em tipos. Casados há 30 anos entra em cena um casal sem diálogo, sem compreensão e uma relação que está chegando ao fim. Quero deixar claro... tudo poderia ser assim... mas se trata de uma grata surpresa dirigida magnificamente por Pedro Brício. No palco Guida Vianna e Dudu Sandroni fazem rir, chorar e emocionam com a história escrita pelo dramaturgo americano Edward Albee.

O texto é uma pérola da dramaturgia contemporânea, vale ressaltar que foi muito bem traduzido por Marcos Ribas de Faria. Piadas bem colocadas no tom e na medida certa. Um riso amarelo toma conta da plateia que se diverte e se identifica com o casal. Da comédia ao drama em segundos. É incrível ver as minúcias e a reflexão que o autor propõe aos casais. Me arrisco a dizer que é quase uma terapia em grupo, a diferença é que é bem mais engraçado...

A direção de Pedro Bricio aproveita o tom dos atores e reforça a questão do cotidiano na vida de um casal. Ações repetidas nos fazem revisitar o dia a dia das personagens. O diretor trabalha vários planos de cena e explora o talento do elenco.

Guida Vianna brilha em ao lado de Dudu Sandroni. A atriz que tem uma forma conhecida de interpretação tem o dom de valorizar as palavras e consequentemente o texto. O humor característico de Guida dá o tom certo e o tempo apropriado ao espetáculo. Dudu Sandroni optou por um personagem mais fluído e fica clara a contra vontade em deixar ou não sua esposa (trabalho que poucos atores fazem nos dias de hoje). Uma comédia que tem como pano de fundo a mágoa, o sofrimento e as mentiras escondidas por 30 anos. Assim é o casal Gillian e Jack.

Neste livro de lembranças a iluminação está linda. O mapa de luz foi muito bem desenhado e valoriza as intenções da direção. A cenografia é usual e os objetos cênicos nos fazem refletir sobre quem mora naquela casa. Quando o assunto é o figurino, mais um ponto positivo. A opção das cores valoriza os atores e a composição do trabalho.

Mesmo com tantos acertos é preciso dizer que o espetáculo é longo e que em determinado momento a discussão se torna deveras cansativa. Os atores experientes conseguem se dar bem com o texto, mas pode ficar ainda melhor se ficar mais enxuto.

Aplausos, gritos e assobios para “A Peça do Casamento”.