Texto compromete montagem
“Sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par... basta um olhar que o outro não espera... entre a Bela e a Fera.” A canção tema do musical original da Broadway “Sentimentos são” inspira gerações e envolve a temática de um espetáculo que vai além das aparências. Para contar essa história com uma pitada de brasilidade entra em cena “ A Bela e a Fera- Musical sobre a verdadeira beleza” no Teatro Vanucci, na Gávea.
Trilha musical original, novas coreografias e as personagens que encantam o imaginário de pais e filhos. O elenco canta ao vivo e os figurinos mereceram uma atenção especial retratando com delicadeza detalhes do original. Apesar de grandes acertos dirigir e adaptar uma obra como essa (que permeia tanto o inconsciente popular) é uma tarefa difícil que acaba tendo alguns deslizes.
O texto de Carla Reis compromete a execução da direção. Fica claro que a adaptação proposta tenta solucionar com agilidade todos os conflitos do espetáculo tirando a magia entre as personagens. A rosa que é o ponto central da história fica de fundo em um vitral e é praticamente esquecida. Vale ressaltar ainda que algumas soluções para trocas de figurino são apenas justificadas no texto ( assim quando os objetos são desencantados e todos deveriam como a Fera voltar a seu antigo estado).
Os diálogos mereciam ser melhor estabelecidos, conflitos, vontades e contra vontades das personagens. A proposta de um Gaston metrosexual (que não sei se é vinda do texto ou da direção) desliza e acaba dando margem para outros comentários ( o mesmo não tem graça e não arranca risadas da plateia- se é que essa era a proposta) o desejo de se casar com Bela e a força da personagem ficaram em terceiro plano.
Trabalho difícil também para Bruno Camurati e Wagner Mônaco que fizeram a composição da trilha. É preciso ressaltar que ambos acertaram e as canções estão bem encaixadas no contexto e auxiliam a contar a história. Os atores estão bem afinados e desempenham bem o trabalho vocal.
A direção de Luis Fernando Bruno tenta solucionar problemas na adaptação. O diretor trabalha bem os níveis do palco e a movimentação em cena. Fica claro que Luis Fernando Bruno tem um bom trabalho de direção de cena e também de ator.
Um equivoco que também foi bastante criticado na última montagem original brasileira de “A Bela e a Fera” feita no Teatro Abril em São Paulo era o tamanho do ator que fazia a “Fera”, o mesmo se repete e apesar de desempenhar bem o papel a “Fera” do Vanucci, não assusta e nem mete medo.
Apesar disso a montagem tem seus toques de comédia, os improvisos trazem o texto para o terreno contemporâneo e belas canções. O elenco executa bem a tarefa, se mostra concentrado e unido em cena.
Figurino deslumbrante e cenografia usual são acertos da peça. A iluminação poderia ter sido melhor trabalhada, muitos pontos em aberto acabam tirando o brilho de algumas cenas.