Ao chegar no Teatro Solar de Botafogo fui surpreendido com o cartaz da montagem do musical "Rapsódia", uma peça marcada pela ousadia. A direção do espetáculo é assinada pela famosa Liane Maya, as músicas próprias foram compostas por Sarah Benchimol e o texto é de Mauricio Alves.
Podemos dizer que estamos diante de um marco na cena carioca. Um grupo de atores pouco conhecidos do grande público monta um texto original, inédito e brasileiro com perfeição tamanha. É claro que existem alguns ruídos, que se tornam mínimos diante o objetivo do projeto.
Sim, é ousado. Sabemos todos dos valores que cercam o teatro. O quanto é caro e difícil se produzir teatro, e quando falamos de um musical, tudo isso se torna maior. Mas os desafios parecem ser sinônimo de força para esse grupo que está seguindo sua carreira sem depender das grandes audições e das leis de incentivo, que acabam sendo para tão poucos.
O figurino é deslumbrante. Fica claro a pesquisa de época, de padronagem, tecidos... Riqueza de detalhes e delicadeza que encanta as fileiras do charmoso Solar. A maquiagem também merece lugar entre essas linhas, um belíssimo trabalho de caracterização que nos transmite a frieza de um algoz e a beleza de uma jovem.
As canções não chegam a grudar nos pensamentos, são leves e nos conduzem pela história. Sim, elas ajudam a contar cada parte da montagem. A direção musical é de Guilherme Borges, que está de parabéns. Ressalva apenas para o elenco do cabaret, que merecia estar melhor afinado.
O elenco é formado por Mauricio Alves, Carmen Costa, Julia Morganti, Gabriel Leone, André Rayol, Rose Brant, Isabel Chavarri, Anna Mendes, Carol Fernandes, Guilherme Guimaraes, Ricardo Knupp, Juliana Duarte, Bruna Caenazzo, Eric Paixão e Tomas Quaresma.
Figura conhecida do teatro musical André Rayol se destaca como um homem inconformado pela morte de sua esposa e os caminhos tortuosos que ele segue para concretizar esta obsessão. Sua interpretação é forte e apresenta visceralidade. Já Tomas Quaresma arranca aplausos e assobios com sua "Brigite", delicadeza em pessoa, o ator tem ótimas tiradas. O jovem Gabriel Leone também merece ser citado, inclusive como promessa dos musicais. O rapaz tem um timbre doce e interpretação suave.
A iluminação auxilia o elenco, suas entradas e saídas, ajudando a criar aquele clima de suspense e mistério. A cenografia é usual, porém as trocas de cenário são lentas e poderiam ter uma melhor solução. O fato acaba criando grandes buracos entre uma cena e outra.
A história se passa no Brasil em uma cidade fictícia com o mesmo nome do musical, em 1920, mas começa com uma recordação uma década antes. A partir dessa localização no tempo, Liane começa uma busca por elementos artísticos do início do século XX até chegar ao expressionismo, que perpassa todo o espetáculo, combinando a linguagem teatral com a cinematográfica. Filmes expressionistas famosos, como “Metropolis“, “Dr. Calligari” e “Fausto” serviram de inspiração para a criação do cenário projetado do espetáculo, criado por Marzulo Vivaqua.
Rapsódia- O Musical merece ser visto, apreciado e aplaudido de pé!