CRÍTICA | A Marca da Água

A Marca da Água

 

A companhia formada em Londrina se fortalece a cada dia e após 25 anos de resistência cultural e com sede no Rio de Janeiro a “Armazém companhia de teatro” foge dos moldes, padrões do teatro comercial e busca sempre inovar em sua linguagem.

 

É importante ressaltar o quanto é prazeroso escrever e prestigiar a “Armazém”. O espetáculo que se passa na sede da Companhia, na Fundição Progresso movimenta as sensações, busca a reflexão e atinge outros níveis de nossa consciência.

 

Em “A Marca da água” podemos fazer parte da vida de Laura, uma mulher de 40 anos que apresenta em uma narrativa desconstruída fragmentos tortuosos da vida desta mulher. Posso dizer que somos introduzidos dentro do cérebro de Laura. E, de repente, o inevitável.

 

Segundo o release do espetáculo: “Nossa protagonista vive numa aparente placidez, uma espécie de tristeza cotidiana. Até que um peixe enorme aparece misteriosamente no seu jardim. A presença estranha do peixe, a discussão com o marido, as picuinhas da vida da família, são uma pista falsa (red herring) sobre o rumo das coisas. Laura está diante do inevitável.

 

Numa narrativa feita de descontinuidades - com um filtro surrealista e algo trágico (pois há aqui uma espécie de autodestruição) – A Marca da Água inicia o processo de reconstrução da pequena Laura, que sofreu um acidente neurológico na infância e começa a sentir novamente os sintomas da doença em seu cérebro.

 

Quase que voltando a alguns mitos antigos, que trabalhavam constantemente com a ideia de Destino ou Maldição, tirando do indivíduo a “escolha”, a possibilidade de decidir sobre sua liberdade, A Marca da Águaatualiza essa questão levando em conta o movimento dos neurônios no cérebro. Hoje, o inevitável é o que a genética, o que os neurônios determinam em nós. Só que aqui, nossa personagem tenta transformar sua maldição em força de vida. Numa atitude afirmadora, escolhe o sintoma em lugar da cura. Tenta materializar o som constante que ouve dentro de sua cabeça, como uma forma de afirmar-se viva e potente. Quer mergulhar nas visões de seu passado, que sua memória vai ativando de forma muito nítida, para reconstruir relações e afetos.

 

Em Musicophilia, Oliver Sacks já estudava e descrevia uma série de surpreendentes distúrbios neurológicos ligados à música. Já surpreendia mostrando como de um trauma poderia surgir a beleza (como na história do homem que, depois de sofrer uma descarga elétrica provocada por um raio que cai próximo de seu corpo, - e sem nunca ter estudado música - torna-se um virtuoso pianista).

 

Com tons e movimentos que mantém o universo de A Marca da Água entre o real e o sonhado, a busca e o delírio da personagem flagram estados sutis quando a fragilidade física pode transformar-se em afirmação de vida.”

 

É assim com uma linguagem feita com os moldes da “Armazém” que nasceu “A Marca da Água”. A direção assinada por Paulo de Moraes é brilhante e trabalha com os planos em todas as suas possibilidades. A beleza cênica e  o uso de tecnologias já é uma característica da Cia.

O elenco formado por Patrícia Selonk, Ricardo Martins, Marcos Martins, Marcelo Guerra, Lisa E. Fávero e o músico Ricco Viana. Palmas, aplausos e assobios para todos que fazem parte deste belíssimo trabalho. O carisma de Patrícia Selonk que interpreta Laura ajuda a conduzir a plateia por este quebra cabeça narrativo que é uma construção de Maurício Arruda Mendonça e Paulo De Moraes.

 

Não posso encerrar este texto sem dar o destaque merecido a cenografia de Paulo De Moraes e a iluminação do fabuloso e premiado Maneco Quinderé. Os figurinos de Rita Murtinho também brilham em cena e através de uma cartela de cores e tecidos específicos para o tempo em que o elenco fica na água ajuda a contar a história de Laura.

 

De fato meus queridos, na vida e na arte nós não podemos ter medo de morrer afogados.

 

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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