CRÍTICA | Apartamento 171

Uma graciosa comédia com precioso toque da qualidade

 

A cada ano que passa, a arte vem se tornando um mercado gradativamente mais poluído. Ir ao teatro, por exemplo, e ver um monte de comédias em cartaz chega a ser um pouco frustrante, pelo simples fato de que, mesmo sendo interessantes e divertidas, os espectadores merecem mais no quesito conteúdo. Muitos deixam a qualidade de lado para investirem com “sabedoria” na tal quantidade, que já deveria ter sido extinta, mas, infelizmente, nem tudo são flores.

 

Embora eu esteja falando assim, confesso que me surpreendo a cada vez que saio de casa para ir ao teatro e encontro em algo simples um aglomerado de surpresas gostosas. E quando isso acontece aplaudo de pé. Foi o caso do último sábado, quando tive o prazer de assistir à peça APARTAMENTO 171 que está em cartaz no Teatro dos Grandes Atores, no Barra Square.  Não é qualquer dia que assistimos cinco atores no palco fazendo uma comédia divertida, inteligente e com o texto bem fundamentado.  Isso nos devolve a esperança de que não é necessário abusar de conteúdos pesados para divertir o público.

 

Logo que cheguei no teatro, encontrei a cortina aberta denunciando um cenário simples, porém, perfeitamente trabalhado para que cada objeto e/ou parte do ambiente fosse, mais tarde, utilizada pelos atores. O famigerado apartamento ficou exposto durante toda entrada do público causando inicialmente uma certa estranheza. Mas essa estranheza logo foi substituída pela ideia de que o apartamento talvez estivesse aberto à visitação.

 

A história gira em torno de dois casais (cada qual com seu problema particular) que são enganados e alugam o mesmo apartamento que, na verdade, é de um politico conhecido por escândalos financeiros. Mas o grande propulsor de toda a confusão acontece quando uma mala de dinheiro é encontrada pelos moradores e, logo em seguida, desaparece misteriosamente. A premissa é básica e tinha tudo para ser desinteressante e clichê, mas torna-se incrivelmente engraçada através da criatividade espontânea de Antônio Rocha Filho, autor do espetáculo. Ele consegue amarrar, divinamente, o enredo, definindo com classe o famoso “jeitinho brasileiro” ao ousar e abusar de diálogos populares embebecidos em uma acidez totalmente efervescente.

 

Mas nem só de um texto se completa uma produção e “Apartamento 171” faz jus a essa máxima.  Posso dizer que há uma boa briga no palco e ela começa com o próprio autor, que também se mostra um excelente e experiente ator ao dar vida a um dos personagens da trama (um antigo ator de televisão que agora se encontra desempregado e sem dinheiro). Ele tem o seu melhor momento no dialogo com o Político interpretado por Mateus Rocha.  Mateus é outro que rouba algumas cenas e consegue manter, tranquilamente, o equilíbrio entre alguém charmoso e completamente canastrão, aprofundando, com isso, muito mais nessa peça do que em outros papeis já vividos por ele. Amanda Richter e Romulo Estrela estão completamente conectados com suas personagens e trazem ao palco um casal  estranho e bem paranoico. A química é tão grande que, se eu não soubesse a verdade, diria que a dupla tinha acabado de fugir de um filme de Woody Allen. Mas a grande surpresa fica por conta de Fernanda Pontes, que chega como quem não quer nada e de repente arranca gargalhadas inesperadas do publico. A bela atriz dá um show de graciosidade, presença e interpretação na pele de uma hippie super de bem com a vida.

 

A iluminação é propícia à peça e a repetitiva e interessante trilha sonora nos transporta para um projeto independente que merece ser visto várias vezes, seja pelo talento do elenco, ou a sintonia da equipe ou pela direção bem trabalhada de Duda Ribeiro que nos brinda com toda a sua energia e inspiração, cobrindo com habilidade todos os pontos necessários para fazer dessa comédia uma das mais interessantes do ano.

 

“Apartamento 171” respeita o seu público e é deliciosamente bem construída por todos os envolvidos, merecendo uma longa salva de palmas.

 

 

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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