CRÍTICA | Jim

O embate entre um homem e um ícone

 

Quando uma alma desnorteada e vazia decide enfrentar seus piores demônios, tentando descobrir os conflitos que a afastaram drasticamente de tudo aquilo que, teoricamente, ela deveria ter se tornado, um ponto de partida é colocado em voga como principal gatilho para trazer à tona a verdade absoluta.  Um homem com uma arma e um mito são jogados em um duelo insensato e cheio de reviravoltas que poderiam passar despercebidas nas mãos de um autor inexperiente e despreparado.

 

A melhor forma de classificar o musical intitulado “JIM”, que está em cartaz no teatro Leblon, seria defini-lo como uma batalha de gladiadores.  O show retrata no palco um encontro bestial entre duas almas transtornadas: Jim Morrison e João Mota.

 

Uma chama ardente é acendida no meio daquele simplório e extremamente simbólico ambiente e uma guerra feroz é travada de forma implacável entre esses dois personagens.

 

Eriberto Leão se entrega quase espiritualmente a duas vidas unificadas em um só corpo e não só encarna João Mota mas, por breves momentos, personifica, sem exageros, o próprio Jim. Mas o espetáculo não pertence somente ao ator global; a compentente e talentosa atriz Renata Guida nos felicita com uma singela interpretação daquela que poderia ser considerada um “anjo” na vida de João. A sua personagem é tão profunda e cheia de significados que quase nos apresenta um retrato da realidade vivida por Jim e Pamela.

 

O reflexo esquizofrênico entre a genialidade de um ser mítico e um pobre sonhador com desejo de ser tão grandioso quanto o seu ídolo chega quase a transcender a perfeição no belíssimo texto criado por Walter Daguerre. O autor brilha com sutileza, “catando” até mesmo os menores detalhes das influências deixadas por Jim Morrison, uma das almas mais perturbadas e icônicas do século 20 e, sem sombra de dúvida, de todo o mundo artístico.  

 

Daguerre recria a sensibilidade poética de Morrison através do desabafo de João Mota e, sem escorregar na trivialidade de tentar contar uma biografia, ele nos apresenta um fã, um homem comum repleto de sonhos perdidos e, ao mesmo tempo, completamente apegado ao caminho traçado por seu ídolo, trazendo à cena um texto repleto de sentimentos, nostalgias e paixões à flor da pele.

 

O espetáculo é simbólico, completamente expressivo e imerso em um mundo desolado, repleto de poesias e grandes e raras belezas que juntas compõe a mágica estrutura que dá asas à imaginação do excelente Paulo Moraes.  O diretor nos entrega uma visão inovadora, um retrato febril, agressivo e simultaneamente bucólico de personagens conquistadores vividos por Renata Guida e Eriberto Leão. Digna de prêmios, a direção de Moraes é costurada através de uma linguagem completamente conceitual e tão genial quanto as apresentações do próprio Jim Morrison durante seus shows.

 

O cenário, um trabalho particular e sublime, criado pelo próprio diretor, é composto por uma lápide em formato de piano de calda e microfones estrategicamente espalhados pelo palco. A ideologia nos remete a uma viagem até o tumulo do cantor no cemitério Pére-Lachaise em Paris.

 

O descomplicado figurino de Rita Murtinho contrasta com as nuances e transições de iluminação elaboradas por Maneco Quinderé, nos oferecendo uma beleza à parte que, quando somada a todo resto e à direção musical de Ricco Vianna, nos dá a sensação de estarmos realmente em um show de rock.

 

 “JIM” é uma delirante estória marcada por encontros e desencontros entre a loucura e a poesia de um monstro do Rock e o seu perturbado admirador.  Uma psicodelia musical entre o real e o imaginário que precisa ser encontrada não só pelos fãs de Morrison, mas também pelos apaixonados por boa música e, é claro, apreciadores de um grande espetáculo.

 

Peça: Jim

Crítica por: DS. Gravelli

 

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