O retrato cru e suplicante de um gênio, explorado através do espetáculo “Visitando Camille Claudel”, em breve temporada no teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, nos transporta a diversas fases da vida de uma artista que sofreu para tornar realidade o sonho de ser uma escultora de sucesso. A história, criada à partir de um monólogo resplandecente, esculpe, com perfeição, a solitária existência da talentosa Camille Claudel, a luta pela sua arte e o desorientado romance com o mestre Auguste Rodin. Paixão mordaz, que a deixou à beira da loucura ao cruzar a impiedosa ponte entre o amor e o ódio.
Ramon Botelho escreve e dirige de forma emocionante a peça, transpondo ao público toda agonia e penúria sofrida por Camille na busca por cada um de seus desejos. Fazendo uso de quase todos os objetos de cena para compor a inquietude e os devaneios da personagem, o diretor age com maestria e leveza ao construir, no palco, a forte personalidade dessa mulher.
Adriana Rabelo personifica Camille Claudel em uma memorável performance. A atriz embarca de corpo e alma numa atuação impressionante e sem precisar de mudança de maquiagem ou qualquer outro tipo de transformação, nos brinda com uma riquíssima e diferenciada representação das diversas fases da vida da escultora.
O cenário leva as assinaturas de Marília Paiva e Iuri Frigoletto, que juntos compõem em um único ambiente quase toda trajetória da artista. Destaque para as esculturas utilizadas para contar os marcantes momentos da infância e o manicômio onde termina os seus dias.
O sublime figurino de Wagner Souza remete à toda a angustia da personagem, principalmente quando a mesma veste o antigo vestido de baile e começa a dançar sozinha por todo o recinto.
O iluminador Paulo Cesar Medeiros cria uma atmosfera visceral e poderosa que brinca com o tempo de forma não-linear, quase nos levando a insensatez.
A trilha sonora, criada por Rodrigo Lima, exclusivamente para o espetáculo, arremata a tarefa de emocionar e nos ajuda a embarcar no tocante e emaranhado mundo de fantasias e delírios da escultora.
Das brincadeiras de infância com o irmão Paul à completa solidão e paranoias nos últimos períodos de sua vida, “Visitando Camille Claudel” não é apenas mais uma peça de teatro e, sim, um espetáculo que poderia, facilmente, representar o sofrimento de diferentes pessoas através da vida e obra da genial artista francesa.
Um brinde a essa encantadora montagem que merece ser vista por todos aqueles que apreciam o teatro de boa qualidade.
Peça Visitando Camille Claudel
Temporada de 08/03/2014 Até 30/03/2014
Por D.S. Gravelli