‘O Dia Quem Sam Morreu’ em cartaz no Espaço Armazém, na Fundição Progresso, narra a história de 6 personagens que se veem presos uma situação capciosa. O espetáculo do Armazém Companhia de Teatro tem o texto de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes, com a direção de Paulo de Morais.
Com uma trajetória de mais de 20 anos, o Armazém nos trouxe um espetáculo forte, contemporâneo e questionador. O jovem Samuel invade um hospital armado com uma pistola e seus ideais, ele acredita que pode mudar o mundo e que aquilo é só o primeiro passo.
Para os frequentadores de teatro, que já conhecem o trabalho de Paulo de Moraes, percebe o quão ele está presente tanto na história quanto na direção. Nessa sua parceria com o Maurício Arruda, construiu-se um texto atual, de narrativa rápida e com o cunho bastante politico, com uma presença forte sobre os questionamentos socioeconômicos vividos pelo nosso país.
Qual o valor da sua moral? O que o seu caráter representa para si e para a sociedade? O que pode ser feito? Até onde podemos ir para mudar o que está errado? São algumas perguntas pertinentes, presentes em nossas mentes durante e após o espetáculo, proposto por um texto bem desenvolvido pelos dois.
Mesmo tendo um texto rápido e explosivo poderíamos tirar alguns palavrões. Os personagens estão em constante tensão, mas ainda assim é preciso saber medir essa carga. Não é algo que atrapalhe, mas é algo que pode ser melhorado.
A direção de Paulo é singela e concisa. Bem pontuada, de forma com que os atores sintam-se livres em seu espaço cênico ao ponto de ir ao ápice e voltar sem parecer blasé e desconexo. Os atores em cena conhecem o seu limite e o de seu parceiro, sabem o que lhe representa. A direção assegura que esses seis personagens não se percam no meio de tantas filosofias.
A questão da propagação vocal é uma por meio natural, sem microfone, e em partes com microfones. Essa aplicação foi extremamente pontual, sendo feito nos momentos perfeitos com a intensidade necessária.
Com a explosão constante, com as emoções a flor da pele, pode falhar um pouco a dicção, é natural que isso possa ocorrer, mas o ator mais prejudicado com esse ‘dilema’ é o ator Jopa Moraes. Como momentos incríveis, sua dicção dá uma leve falhada, mas nada que prejudique o espetáculo em si.
Otto Jr é uma deliciosa surpresa desde ‘A Mecânica das Borboletas’. Há tempos não víamos no palco um ator tão presente e majestoso em sua atuação. Mas os melhores atores em cena, sem sobra de dúvida, é Patrícia Selonk e o Marcos Martins.
Patrícia é uma grande juíza, que aguarda um transplante de coração. Nunca foi tão bom ser audacioso, indeciso, depressivo e corajoso ao mesmo tempo juntamente com a personagem Samantha. É visível todas as emoções que estão ali presentes intrínsecas na personagem.
Marcos Martins é mais conciso em sua atuação, mas de forma brilhante interpreta um senhor, que era palhaço e hoje está com mal de Alzheimer. De forma primordial, nos faz rir mesmo estando propenso á uma grande carga dramática.
Na iluminação, mais uma vez, Maneco Quinderé é fabuloso. Se existe algum trabalho ruim do Maneco ele é desconhecido. Nenhum espetáculo que possua sua assinatura na iluminação deixa a desejar e ‘O Dia Que Sam Morreu’ não é diferente.
A trilha, realizada ao vivo, pelo músico Ricco Viana, é uma aplicação plausível a trama, fazendo uma narrativa musical densa perfeita para o espetáculo.
‘O Dia que Sam Morreu’ é uma grande questão de vida. Uma grande filosofia aplicada aos palcos para que nossos olhos e ouvidos possam capitar o como é o ser humano e o quão não humanos podemos ser. Nós somos o Sam, e de alguma forma percebemos que em partes de nossa vida nos deixamos morrer. Parafraseando o próprio texto:
“Roubaram a nossa língua pelo ensino, as nossas canções pela música vazia, nosso corpo pela pornografia de massa, nossos amigos pelo trabalho, nossa cidade pela policia... E a gente permitiu.”
Aplausos, calorosos e em pé, à todos os envolvidos no espetáculo.
Temporada De 10/04/2014 Até 29/06/2014 na Fundição Progresso
Por Paulo Oliveira