CRÍTICA | Cock – Briga de Galo

Cock - Briga de Galo

 

Amor e desejo no ringue de uma grandiosa proposta cênica

Defendendo que menos é sempre mais, com humor na medida certa o espetáculo com direção de Inez Viana valoriza o texto e principalmente o trabalho do ator.

 

Quando soube da montagem de Cock - Briga de Galo, logo fiquei curioso para descobrir o que se tratava o espetáculo. A peça do britânico Mike Bartlett, vencedora do Olivier Award em 2010, tem sua estreia nacional no aconchegante Teatro Poeira em Botafogo, com direção de Inez Viana e versão brasileira de Eduardo Muniz e Ricardo Ventura. Traz no elenco Felipe Lima, Débora Lamm, Marcio Machado e Helio Ribeiro. O espetáculo levanta as seguintes perguntas. É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? A paixão independe de gênero?

 

Cock – Briga de Galo flagra Jonh, um homem inerte, um precioso trabalho do ator Felipe Lima, completamente dividido entre ficar com o seu parceiro (M) de longa data, Marcio Machado da sustentabilidade a este personagem, ou se abrir para uma nova possibilidade, assumindo o amor por uma mulher (W), lindamente interpretada por Débora Lamm. Vivendo uma relação estável com seu companheiro, ele não apenas encara o dilema de encerrar uma longa história de amor, mas entra em conflito ao se apaixonar por alguém do sexo oposto, enfrentando a oposição do seu parceiro e também de F (Helio Ribeiro), pai de M, que não acredita na ‘mudança’ de opção de John. A trama se desenrola com um humor refinado, ácido e ágil, características marcantes do autor. Interessante resaltar a escolha dos “nomes” dos personagens que lutam pelo amor de John as letras M e W não se encaixam quando viramos no sentido horizontal.

 

Apesar de o texto ser bem interessante, a minha vontade em assistir Cock, se deu, por se tratar de uma proposta cênica na qual sou apaixonado, que tomei a liberdade de chamar de “Teatro Triangular”, com uma livre expiração dos métodos pedagógicos de ensino das artes de Ana Mae Barbosa, que foca em três abordagens: Contextualização histórica, fazer artístico e apreciação artística. Esta nomenclatura triangular e para simplesmente destacar os recursos básicos das artes cênicas todo desenhado em cima do texto, do ator e da direção.

 

Mike Bartlett, premiado dramaturgo apresenta um texto com uma linguagem cinematográfica e magistralmente recortado. Como já dita à encenação põe o foco no texto e nos atores, em apenas um espaço cênico sem elemento cenográfico. Essa opção é sugerida pelo próprio autor, que ainda pede que o elenco não faça mímica, esta ai uma das grandes sacadas da obra, muito bem arquiteta na direção de Inez Viana, pois este artifício aproxima ainda mais a comunicação com a plateia de uma maneira peculiar e inteligente.

 

Inez Viana faz um trabalho incrível e muito maduro, com uma proposta cênica nada gratuita. Para Inez, o texto propõe um alerta para a questão das diferenças e o autor faz isso com maestria, quando mostra uma situação de preconceito ao contrário, onde ela soube trabalhar estas questões munidas em detalhes simples, desde uma campainha de um ringue de luta ao jogo corporal dos personagens, em particular a cena do sexo onde existe uma “nudez vestida” mágica e reflexiva.

 

O elenco em perfeita sintonia, apresenta um trabalho comovente. Felipe Lima, além de ator é idealizador do projeto, comprou os direitos da obra, logo após assistir a uma montagem em Nova Iorque, em 2012. “Sentei no teatro sem saber muito do que se tratava a peça e fiquei maravilhado. A montagem não possuía cenário, nem trilha sonora, nem mudanças de luz e de figurino. Cabia apenas aos atores e ao texto dar conta de toda a encenação. Saí de lá com a certeza de que precisava montá-la”. Felipe esta entregue ao personagem central, apresentando um trabalho vocal bem característico grave e bem articulado, apesar de um sotaque criado para o personagem. Com um trabalho corporal bem interessante, em que traça um perfil confuso e indolente de John. Em particular o movimento dos cabelos que aos poucos é despenteando com referencia em uma crina de galo, ilustra bem a perturbação emocional do personagem. Sem dúvida uns dos melhores trabalhos de Felipe Lima, que apresenta um trabalho rico desde “RJ de Shakespeare”.

 

Marcio Machado, da textura a um material cheio de nuances e humor que faz toda a diferença no decorrer da história. A inquietude com as mãos e ego titânico do personagem e apresentado com muito talento e digno de premiação. Débora Lamm, que estamos acostumados em trabalhos voltados à comedia, traça um trabalho cênico poético, em especial nas cenas finais em que seus olhos brilham e com suaves lagrimas emocionante. Alias os meus também lacrimejaram, parecendo que derrota era minha. Um trabalho seguro e preciso que afirma o talento de Débora como uma das melhores de sua geração. Helio Ribeiro, um grande ator, faz uma pequena e importante participação em um trabalho requintado.

 

Ainda neste ringue a ficha técnica traz no figurino Julia Marini , com roupas modernas que desenha bem o perfil de cada personagem possui referências nas cores da penugem do galo como o verde, vermelho, azul e amarelo. Vale ressaltar os sapatos coloridos no tom certo que faz um lindo movimento já que o espetáculo bem próximo da plateia. Renato Machado na luz simples e sem cortes cumpre bem o seu papel, os refletores presos como móbiles simétricos compõem a proposta estética do espetáculo. João Callado em uma trilha sonora pontual e quase zero, Dani Amorim em uma direção de movimento primorosa em todos os momentos da trama fecha um time pronto para enfrentar a luta de uma produção teatral.

 

Cock- Briga de Galo é mais um belo trabalho ator/produtor Felipe Lima, que faz parte de uma geração ao lado de Pablo Sanábio de RJ de Shakespeare e Edukators, Felipe de Carolis de Incêndios e sempre bem aparado pela experiente produtora Maria Siman, apresentando um novo frescor no cenário carioca com talento, competência e com bons textos e proposta dramatúrgica inovadora.

 

Por Rodrigo Medeiros

Peça Cock - Briga de Galo

Temporada de 20/05/2014 Até 24/07/2014 na Teatro Poeira

 

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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