CRÍTICA | 220 Volts

220 Volts - Um espetáculo!

 

 
“220 volts”, o novo espetáculo do excelente comediante Paulo Gustavo, tem um único problema: a dramaturgia. O espetáculo, que é dirigido por ele e por Fil Braz, é a versão para teatro do programa de televisão exibido pelo canal Multishow com muito sucesso desde 2011. Composto essencialmente por quadros de stand-up comedy já bem conhecidos do público, a peça, em cartaz no teatro OiCasa Grande, é recheada de bons números de dança coreografados por Dudu Pacheco. A produção é assinada por Sandro Chaim e já agrada, mas poderia agradar mais se os melhores quadros estivessem no final e não no início. Uma curva decrescente é um perigo mesmo para uma peça cheia de bons momentos como essa.
 
Os seis personagens da noite, em termos de conteúdo, são muito parecidos. Respostas rápidas e definitivas, ausência de perguntas e grande quantidade de afirmações, pontos de vista críticos, sarcásticos e mordazes sobre o mundo, tom de voz afiado e arrogante são as matérias primas fortemente presentes em todas as figuras da peça com poucas variações. “A famosa” é uma celebridade do mundo pop que esnoba aqueles que não são tão famosos quanto ela. “A feia”, a única figura que se autocritica, conversa com o público sobre as mulheres bonitas, revelando ser essa a saída para quem é desprovido de beleza. No quadro que tem dramaturgia mais apurada de “220 volts”, a socialite racista e homofóbica “Senhora dos Absurdos”, um dos personagens mais populares de Paulo Gustavo, reclama com o público do aumento de homossexuais, negros e de pobres nas redondezas de seu prédio no Leblon, envolvendo-se em um conflito com a polícia. “Maria Alice”, a apresentadora de programa culinário na televisão, conversa sobre comportamento com os telespectadores, ensina a cozinhar e vende produtos. “A vagaba” termina com um namorado ciumento em uma balada e “Ivonete” está em um bar, esperando o resultado do concurso que escolherá a nova passista de sua escola de samba. Em todas as cenas, o diálogo tem o mérito de ser rápido, direto, cheio de voltas surpreendentes, referências do mundo atual e de imagens bastante críticas. Porém, ao abrir com a personagem “A famosa”, Paulo Gustavo mostra, já no início, o figurino mais brilhante, projeta os melhores vídeos em led, deixa ver o ponto mais alto das coreografias viabilizadas pelo corpo de baile. Além de engraçada (como também serão as demais), essa primeira cena enche os olhos e alimenta as expectativas do público que foi recepcionado por dois DJs (Giulio Rizzo e Jesus Luz) e por um prólogo bastante bem apresentado por Marcus Majella. O nível da qualidade visual dos primeiros minutos não se elevará, mas, no máximo, poderá se manter nos quadros a seguir. Infelizmente, a peça começa melhor do que termina.
 
Não há dúvidas de que “220 volts” é um grande espetáculo. Em cena, é visível que houve um investimento forte em todos os aspectos com exceção da dramaturgia. Os figurinos de Fause Haten (o mesmo de “O mágico de Oz” e de “Alô, Dolly”) expressam as caraterísticas dos personagens em cortes finos a partir de tecidos vistosos em peças de grande beleza que aumentam os valores visuais da produção sem abandonar o aspecto cômico. O cenário de Abel Gomes preenche o grandioso palco do OiCasa Grande com riqueza de detalhes na variação de um quadro para o outro. A iluminação de Maneco Quinderé e as coreografias de Dudu Pacheco, ao lado da trilha sonora de Zé Ricardo, são responsáveis pela proximidade que “220 volts” estabelece com o musical do gênero americano, principalmente na cena de abertura. Bruno Diaz, Cauan Vieira, Castro Himero, Flávio Rocha, Mario Beckman além de Pacheco integram o grupo de bailarinos responsáveis pelos momentos de stravaganza que entretêm o público sobretudo na troca de quadros. Marcus Majella em destaque, mas também Gil Coelho e Christian Monassa atuam ao lado de Paulo Gustavo, contribuindo para a viabilização das narrativas.
 
Paulo Gustavo é um artista de grande carisma na televisão, no cinema e também no teatro, cuja redenção está vista no quadro de abertura da peça “220 volts”. Seu diálogo com a plateia, nesse espetáculo, é extremamente ágil, de forma que o ritmo não cai facilmente, mantendo-se em um fluxo que é essencial para a comédia. Na exuberância da articulação dos elementos dessa produção, há vários motivos para o aplauso sincero ao espetáculo, mas também ao seu protagonista. Ele merece. 
 

Por Rodrigo Monteiro

Peça 220 Volts

Temporada de 25/07/2014 até 19/10/2014 no Teatro Oi Casa Grande

 

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a página do espetáculo e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

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