Oleanna e o poder das palavras

 

 

‘Tudo o que você disser pode e será usado contra você’. A famosa expressão do aviso de Miranda é velha conhecida em séries e filmes policiais. Mas poderia se encaixar muito bem ao enredo de Oleanna, peça em cartaz no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea.  O subtítulo da obra - uma peça sobre poder - dá o clima do que se pode se esperar da trama onde as ‘armas’ para a luta pelo poder são as palavras proferidas.

 

A peça se desenrola em três encontros entre uma aluna e seu professor. A aluna, prestes a ser reprovada, exige maior comprometimento do professor no ensino da matéria. A inocente aproximação ‘aluna-professor’ vai adquirindo novas dimensões a cada instante. Em alguns momentos eles se identificam, se aproximam e até trocam de papéis na disputa onipresente pelo poder. Tudo através do texto brilhante de Mamet, da direção precisa de Gustavo Paso e das incríveis atuações de Marcos Breda, como professor, e Luciana Fávero, como aluna.

 

O texto do dramaturgo David Mamet imprime um ritmo crescente e envolvente na obra até alcançar proporções inimagináveis de tensão. Um dos maiores mestres americanos no uso da linguagem, Mamet possui estilo próprio e sensibilidade apurada no uso da linguagem para dominar e manipular. A direção de Gustavo Paso, que também é dramaturgo, transmite de forma espetacular a ideia de jogo de poder que ocorre o tempo todo em cena, desde os detalhes, como um celular que antes era atendido a toda hora e passa a ser ignorado, ou a troca de posições dos atores no palco.

 

Com cenário único representando a sala do professor, jogo de luzes e trilha sonora para indicar passagem de tempo, a atenção fica centrada nos atores, que desempenham seus papeis de forma sensacional. Marcos Breda, como o professor, dá um show de interpretação. Seu posicionamento firme e confiante do início da peça dá lugar a um misto de pavor e incredibilidade que seu personagem enfrenta ao se ver como refém de uma situação que ele mesmo criou sem perceber. Luciana Fávero, a aluna, é a responsável pela reviravolta surpreendente da história, onde a menina confusa e com dificuldade de aprendizado se mostra uma verdadeira mestra na arte da manipulação.

 

Ao final de cada apresentação, os atores e o diretor propõem um pequeno bate-papo com o público presente. O mais incrível é que todos acabam se identificando com o professor e ficando com raiva da moça. De fato, a personagem de Luciana está tão crível que o choque acaba sendo muito grande e isso a torna ainda mais irritante. Mas mais do que isso, o que sobressai, ou deveria sobressair, é o embate sobre duas pessoas diferentes, com pontos de vistas diferentes. E as consequências que isso pode ter caso as referências de cada um não sejam respeitadas. No caso de Oleanna, nesta discussão, quem ganha é o público sempre.

 

Por: Tatiana Rockenbach

Peça: Olleana

Temporada: até 01/10 - Teatro dos Quatro

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
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