Glamour e romantismo
O tema central do espetáculo, em cartaz no Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, gira em torno do voo inaugural do Super Constellation G. Em 1955, o avião da Varig diminuiu de 72 para 20 horas o tempo de voo entre Rio de Janeiro e Nova Iorque, aproximando os cariocas da América. No entanto, ao entrar na sala para assistir ao musical, quem embarca numa verdadeira jornada é o público. Sob o comando de Jarbas Homem de Mello, a plateia é levada a de volta à década de 50, com muito glamour e romantismo.
Regina Lúcia (Jullie) é uma jovem moradora de Copacabana que sonha com um futuro melhor. Ela divide um pequeno apartamento de quarto e sala com a mãe (Lovie), funcionária pública divorciada, e a tia (Andrea Veiga), vedete de uma das mais famosas casas de shows da época. A moça decide então participar de um concurso promovido pela Radio Nacional que premiaria o vencedor com uma passagem no voo inaugural do estrelado Constellation. A partir daí, o que vemos no palco é um verdadeiro tributo aos anos dourados, com belas coreografias e canções clássicas dos anos 50.
O texto de Claudio Magnavita, que também é jornalista, é recheado de referências que constroem com veracidade e leveza a atmosfera local daquele tempo, a começar pelo novo núcleo familiar que surgia, com uma mãe desquitada; o boom demográfico da praia de Copacabana e o auge da Rádio Nacional, com suas radionovelas e programas de auditório. Isso sem falar nas menções a personalidades da época, como Pelé, Marta Rocha e Jorge Guingle, que inclusive ganha personagem na história através de interpretação marcante de Franco Kuster.
Se fosse para fazer uma analogia, aproveitando o gancho do futebol, tão citado na peça, falar sobre o elenco de Constellation seria quase como falar sobre um time de futebol. No palco, o que vemos é um grupo bem entrosado, onde cada um representa uma peça chave no esquema tático e desempenha seu papel de forma exemplar. Poderia ser o dream team dos produtores musicais, onde todos dançam, cantam e interpretam com qualidade técnica e carisma. A faixa de capitã fica com Andrea Veiga que, com sua simpatia ímpar e timing perfeito, é a grande responsável por imprimir ritmo ao espetáculo. Jullie, em seu primeiro trabalho adulto, cresce em cena e mostra que chegou pra ficar. Marcio Louzada, estreante em musicais, é outro nome que desponta no meio com o par romântico da protagonista.
Diferente do habitual em musicais brasileiros, as canções do espetáculo são todas em inglês. A estranheza, no entanto, termina aí. As 16 músicas que integram o repertório são verdadeiros clássicos da época, com os quais fica difícil não se identificar e cantar junto, ou ao menos balançar na cadeira. Alguns exemplos: Blue Moon, Only You, Stand by Me e Happy Days. Na interpretação das músicas, novamente a harmonia é o grande destaque, principalmente nas canções de grupo. Os diferentes timbres e quebras estão ordenados de tal forma a valorizar ainda mais a obra. Mérito da direção primorosa de quem entende do assunto.
O comando desta seleção de estrelas fica a cargo de Jarbas Homem de Mello, que faz sua estreia como diretor nos palcos cariocas. E com a maestria e experiência de mais de 20 anos de carreira no teatro musical, incluindo a participação como ator na montagem de 2004 da peça, transforma um enredo simples numa grande produção. A caracterização dos personagens está impecável, assim como o cenário, que se altera durante a cena conforme a ocasião, e iluminação. O destaque fica por conta dos números de conjunto. Jarbas sabe tirar o melhor que cada um tem a oferecer, seja numa acrobacia ou passo de dança mais elaborado. Desta forma, preza novamente pela coerência do conjunto. O resultado não poderia ser melhor. E mais empolgante.
Bom para quem viveu os anos 50 relembrar os velhos tempos e bom para quem quer ter um gostinho de como foi viver naquela época. Melhor ainda para quem quer se divertir e ao mesmo tempo, assistir a um ótimo espetáculo musical.
Por Tatiana Rockenbach