Maurício Machado no camarim com o RNT
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Carioca de nascimento,  o ator Maurício Machado brilha nos palcos e impressiona pela versatilidade na telinha. Na TV Globo o público pode conferir Mauricio  em Alma Gêmea, Cama de Gato e Cordel Encantado. Na TV Record o ator chamou a atenção em Cidadão Brasileiro. Atualmente o carioca  recebeu merecidos elogios pelo espetáculo “Solidão,  a comédia”, de Vicente Pereira. Maurício Machado conta as novidades. O ator bate um papo descontraído com o Rio No Teatro e  fala sobre carreira, vida pessoal e mercado de trabalho! 

 

RNT: Como foi o inicio da sua carreira?

 

 

Maurício Machado: Foi há muito tempo... (E parece que foi ontem...) Mas agora em Novembro deste ano já completo 25 de carreira. Tudo começou aqui na minha cidade natal e maravilhosa... o Rio de Janeiro! , e estreei como príncipe numa peça infantil, apresentada num orfanato! (nunca dei tanto autógrafo...! Até porque as meninas achavam que eu era paquito! E não houve meio de convencê-las do contrário! (risos). Aos 15 fiz minha estreia profissional, através de um teste que vi num jornal de classificados do Rio (o Balcão. Nem sei se existe ainda!), a partir daí não parei mais, e já depois de profissional investi pesado nos estudos (fiz cursos complementares de interpretação, de filosofia, jazz, sapateado, cursei a escola de balé do teatro municipal do Rio (Maria Olenewa), maquiagem artística, a escola nacional de circo (acrobacia, trapézio, corda, perna de pau e clown), curso de produção para teatro/cinema e TV (Na Cândido Mendes), interpretação p/ cinema com a Tizuka Yamasaki, história da arte, dezenas de workshops, as aulas de canto (que até hoje continuo com elas)  ... ufa?... (risos).

 

RNT: Como despertou a vontade de ser ator?

Maurício Machado: Desde meus 11 anos tinha pura convicção de queria seguir a carreira de ator. Minha primeira lembrança de tomar alguma iniciativa nesse sentido foi aos 10 anos quando ouvi na rádio globo a chamada para o teste para escolher o ‘Pedrinho’, do ‘Sítio do Picapau-Amarelo’, pedi a minha mãe e ela disse que não me levaria; de lá até os 12 anos tentei ser sempre o escolhido na escola, nas encenações da igreja (fui coroinha, porque no fundo acho que pensava estar no palco...), mas como era muito tímido nunca era o escolhido, e ninguém levava fé em mim... . Sofria com isso.  Lembro que meus pais iam muitíssimo ao teatro (sempre às quartas-feiras ou quintas, que era mais barato!), e apesar de irem muito... nunca tinham me levado a nenhuma peça infantil. Então eu ficava hipnotizado vendo as novelas, aqueles atores todos... (achava que todo mundo morava ali dentro da caixa da TV, e sempre procurava a ponte para entrar lá dentro !), também quando na época do TV Globinho ao sábados ... esperava ansioso para ver as chamadas das peças infantis... (a primeira vez que vi trechos de uma peça de teatro na TV... senti um negócio bem doido! Um chamamento mesmo prá aquilo.), e quando vi pela primeira vez uma peça que foi até a escola, lembro que fiquei estarrecido na poltrona e não queria mais sair dali...

 

RNT: Estamos nos tempos do ator- produtor?

Maurício Machado: Sou de uma geração que o ator é não somente o criador, mas o empreendedor de suas aspirações artísticas. Eu faço isso há 16 anos. E criei uma produtora que hoje produz em média três espetáculos por ano. Tem o lado bom, de poder viabilizar nossos sonhos, de poder escolher com quem se deseja trabalhar, e minha carreira deu grande guinada a partir do dia em que criei e tornei realidade meu escritório de produção. Hoje são dezenas de espetáculos realizados. Mas confesso que também tem um lado burocrático enorme que por vezes me sinto um funcionário público. Um homem de escritório! Inscrever em leis, captar, arregimentar, treinar equipes de produção e supervisionar e orientar tudo isso é um trabalho insano!

Percebo que tenho certa facilidade em produzir e fazer projetos se tornarem realidade... Mas tudo isso requer um empenho tão braçal, tão gigantesco... que sinto falta por vezes de férias fazendo teatro sabe? Alguém que venha e diga... ’deixa comigo’. O Brasil é um país em pleno e franco desenvolvimento para a produção artística. Aos poucos vai se criando uma indústria de entretenimento. Mas ainda é um país que rotula demais. E à medida que você se auto-produz e passa a deter o poder em suas mãos de conduzir sua carreira, também cessam, quase que por completo os convites para produções que não sejam as suas.

 

RNT: E sua família sempre te apoiou?

Maurício Machado: Não! De jeito nenhum! Atualmente acho tão lindo, quando leio entrevistas de colegas, que os pais apoiam .... Com tantas adversidades da profissão... Não ter o devido apoio é mais um empecilho a transpor. Mas hoje também percebo um glamour que as pessoas conotam a profissão e certo modismo mesmo.

Bom, aos 12 anos pedi ao meu pai para fazer o Tablado (era o único curso de teatro que ouvia falar), meu pai se negou, disse que não queria isso para mim etc e tal. E que ou seria diplomata ou daria continuidade no ramo de negócios dele (ele tinha padaria, já herdada do meu avô). uma semana depois o destino deu uma forcinha e ingressei no teatro amador da escola (tive que falsificar as autorizações deles, e os fui enrolando por quase um ano), depois ingressei em mais dois ou três grupos amadores, nenhum deles conseguia fazer minha estreia como ator... Até que no quarto grupo amador que ingressei finalmente consegui.

As dificuldades foram muito, muito grandes porque não conhecia ninguém do meio, nasci na zona norte do Rio, filho de imigrantes português, também não tinha a trupe nem da praia, nem da galera do curso ou da faculdade... enfim, nenhum lugar para me socializar no meio ou dar os pontapés iniciais nessa profissão tão linda e ao mesmo tempo tão difícil de nos absorver. Além do que, embora ninguém até hoje acredite... sou muito tímido. Matando muitos leões sempre. Aliás, este capítulo ainda não é tão diferente, embora há algum tempinho venha colhendo alguns bons louros... também pudera né.

Acho que o apoio que tive encontrei mesmo em minha determinação, e mais do que um suposto talento... na minha vocação. Não havia como viver sem me expressar como artista.

 

RNT: Mara Manzan na sua vida....

Maurício Machado: Minha estória com a Mara é linda, foi um grande encontro, e um anjo que Deus colocou em minha vida... Pouca gente sabe, mas Mara foi minha segunda mãe. E boa parte do que sou e construí até agora, devo a ela. Quando nos conhecemos, em 1988, no camarim do Teatro João Theotônio (no centro do Rio. Hoje fechado) já tinha feito alguns trabalhos profissionais aqui no Rio, e foi amor à primeira vista! Eu um garotinho... e ela uma mulher incrível, segura, afiada, sem pudores e generosa. Nesse momento, cheio de ilusões e esperanças... já percebia e sentia a dificuldade em conseguir oportunidades e as portas abertas na minha cidade.  E Foi ela quem me apresentou SP, e em SP construí minha carreira, meu nome e o respeito que fui sempre buscando.

Com ela tenho lembranças inesquecíveis, ela me levou para conhecer a algumas possibilidades e oportunidades. Descortinou um mercado que nem sabia direito que existia, o de performances em eventos, e ali me sustentava e vivia tantos personagens diferentes no mesmo dia... Era um príncipe ou um super-herói numa festa infantil e a noite numa outra performance dispare em alguma festa de lançamento de produto ou convenção de alguma empresa, ou como Mestre de Cerimônias em algum importante stand ou no ginásio do Ibirapuera para 14 mil pessoas, era tão rico isso para mim... os desafios, e as improvisações que as performances exigiam. Mara em alguns momentos de dureza de minha vida, sempre se sentiu responsável por mim em SP, e o era! E moramos juntos algumas vezes onde ora me ajudou e ora eu a pude ajudar. Foi presente em toda a minha vida, apesar de termos trabalhado em mais de uma centena de eventos, demoramos muito para nos encontrarmos no teatro, e quando atuamos na peça, sabia da gravidade de seu estado, que nem ela e nem a mídia sabiam. Segurei ali uma onda enorme, e foi como um presente para ela, o que a deixava em pé era a peça, depois o convite da Gloria Perez para a novela, mas me emocionava em ver aquela guerreira que sempre foi lutando e sonhando como uma menina até o último momento.  E no fundo sabia que aquele seria a sua despedida dos palcos e da vida; mas jamais de minha lembrança, gratidão e amor eterno por ela.

 

RNT: Dos trabalhos que fez qual mais te marcou? E qual personagem ainda sente saudade?

Maurício Machado: São tantos! Acho que os personagens são para nós atores como filhos e o amor que se tem por cada criação, nos impede de eleger um... Os que mais me excitam são sempre os mais complicados de fazer, e claro os que nos trazem felicidades também. O Exercício dos sete e três personagens masculinos respectivamente de ‘As Filhas da Mãe’ e ‘Agora ou Nunca’ foi gostoso, o lindo espetáculo ‘O Concílio do Amor’ dirigido por Gabriel Villela, o Quasimodo (de ‘O Corcunda de Notre Dame’, que fui indicado pela primeira vez ao Prêmio Mambembe), o Fantasma Dom Eurico (de ‘O Mistério do Fantasma Apavorado, da obra de Oscar Wilde), o Baltazar de ‘Alma Gêmea’, o Cyrano de Bergerac (‘Cyrano’), o ‘Lemuel Gulliver’ texto na íntegra do irlandês Jonathan Swift, o guerrilheiro político Henrique (da novela ‘Cidadão Brasileiro’), o Paco (de ‘As Traça da Paixão’) foi um presentaço do Alcides Nogueira para mim, o Pink de ‘Cama de Gato’ e o Silvério Duarte (de ‘Cordel Encantado’); mas, o trabalho mais caro foi esse agora com os cinco personagens de ‘Solidão, a Comédia’ tão cheios de humanidade nesta primeira vez que encarei esse desafio em um monólogo...  sem duvida foi o maior de todos! No dia da estreia no Rio, e já com a inesperada repercussão quase infartei mesmo. Segurar sozinho durante 1 h  e 20 a atenção e emoção de uma plateia, é algo indescritível.

 

RNT: Um texto dos sonhos?

Maurício Machado: A lista é enorme e talvez infindável... Sou do tipo que ficaria muito, mas muito feliz se estivesse no teatro de segunda a segunda! Não ia reclamar nem um pouco... Tenho vários textos dos meus sonhos! Amo os clássicos e sonho que um dia pudéssemos ter companhias estatais no Rio e em SP, para que pudéssemos continuamente montá-los. Como são muitos os textos, destaco os que adoraria em breve poder trabalhar: Harold Pinter, Shakespeare, Brecht, Molière, Tennessee Williams, os nacionais ... Nelson, Suassuna e Plínio, adoraria atuar no humor do Miguel Falabella também, e tem uma safra nova muito talentosa que está aí com força no teatro brasileiro, Jô Bilac, Carla Faour, Daniela Pereira de Carvalho... etc.

 

RNT: Talento, técnica ou sorte? O que é preciso para seguir na carreira?

Maurício Machado: Sem dúvida nenhuma os três e mais vocação!Conheci tantos atores de talento na vida... Mas, alguns desprovidos de vocação!

Vocação é saber lidar com o fracasso de saber que está fazendo o seu melhor ... e não deixar se abalar por um teatro vazio ou uma suposta crítica ruim ... lutar para enchê-lo (filipetando se preciso for na praia de Ipanema sob um sol de 40º), por levantar a bandeira do teatro!

É abdicar de tantas coisas em função de seu ofício. Se você vive mal e infeliz sem estar num palco ... se a profissão é como o ar que você respira ...então bem-vindo à essa deliciosa insanidade ! Você deve seguir ....



RNT: Qual a dica para quem está começando?

Maurício Machado: Em primeiro lugar humildade. Vejo tanta, tanta gente que começou ontem ... e que por conta de um trabalho que ‘estourou’ se acha a rosquinha mais crocante  do pacote ... Não somos Deuses nem mito, não somos melhor do que ninguém ... Somos perecíveis e substituíveis. E a melhor conexão com a profissão é justamente o oposto a glamourização dela!!! É nos conectando com o humano, com o singelo que nos conectamos com o divino!

Em segundo lugar, estudar, ler, e principalmente e sobretudo, ser ‘rato’ de teatro!  A melhor dica e aprendizado é ir ao teatro  sem duvida. E assistir tudo que possível de todos os estilos, formas e sabores.

Ver cinema,TV, artes plásticas são fundamentais também para um ator. Mas transitando muito pelo Rio, SP e excursionando Brasil afora, percebo que os estudantes de teatro vão pouquíssimo ao teatro. Idealizei uma exposição que ficou em cartaz 2 meses em cartaz no Rio e SP, com o panorama do teatro besteirol da década de 80 e praticamente não recebemos a presença dos alunos de teatro. Comprometimento, lealdade com sua escolha, disciplina são fundamentais.



RNT: Do Rio pra São Paulo. Qual a diferença dos públicos e mercados de trabalho?

Maurício Machado: Bom, como vivo e resido nas duas cidades ... percebo que existe muita fantasia sobre quem vive em SP sobre o Rio e vice-versa. Mas é tudo realmente muito parecido no que diz respeito ao desejo e anseio do publico ...  Talvez a única diferença se dê no ponto em que o público carioca espere se divertir e o paulistano ir mais despojado para a experiência teatral. Criou-se o mito de que São Paulo o teatro ‘bomba’ ... e através da ótica de produção ... sim isso é verdade ! São mais de 200 peças em cartaz, isso se dá por conta de forte trabalho de lei de fomento a grupos e lei específica para a produção local paulistana. Mas as escolhas do publico continuam sendo pelos espetáculos de sucesso (90% deles vindo do RJ) com atores famosos e em teatros de shopping ou em bairros muito nobres (tal como no RJ não ?). Os espetáculos de pesquisa e alternativos continuam reduzidos a um público muito pequeno e restrito.

No que diz respeito a um mercado de trabalho mais amplo, creio que as duas cidades trazem possibilidades, mas São Paulo ainda abre um leque maior para quem quer ir além do teatro/ tv e cinema. Existe um mercado forte de publicidade, de eventos, dublagem e conheço dezenas atores que vivem (e muito bem!) desta forma. Eu mesmo durante anos com a grana curta do teatro, me mantive como ator em eventos e em vídeos institucionais para empresas.



RNT: Uma frase...

Maurício Machado: Existe sempre uma certa para cada situação e momento.



RNT: Quais as novidades para o segundo semestre?

Maurício Machado: Bom estou com vários planos  (e  sonhos também) ... nem dá para falar todos. Vai que alguém vai e faz!! rsrs. Mas quero muito ainda fazer meu monólogo que estreei no Rio no início de 2011 (‘Solidão, a Comédia’ do Vicente Pereira, com direção do Tovar) por muito tempo. O trabalho foi feito com muita delicadeza por todos nós (tem tb as músicas lindas do Alexandre Elias a luz incrível do Aurélio). Tenho o Brasil todo para apresentá-lo, e espero que esta peça seja sempre meu repertório e que tenha outras também. Além disso  Nívea Stelmann (com quem fiz ‘Cyrano’ no teatro e ‘Cama de Gato’ na TV), vamos fazer ‘Batalha de Arroz num Ringue para Dois’ do Mauro Rasi. E nos próximos dias definiremos a direção. Estrearemos em breve. Estreio em breve um infantil baseado no conto de Goethe, ‘O aprendiz de Feiticeiro’, com adaptação de Walcyr Carrasco;  tem um projeto de um infantil que quero muito fazer, algo bem diferente e bem fora do convencional  (mas isso é sonho !); e para 2014 estreio um espetáculo em que vou fazer com o diretor Ulysses Cruz, com quem convivi nos tempos de Grupo Boi Voador, e queria muito trabalhar. Um projeto fabuloso! Uma ideia incrível.

 




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