O Rio No Teatro abre as cortinas do mês de setembro com uma entrevista saborosa com um artista irreverente e provocador. Anselmo Vasconcelos abre seu baú de memórias, revisita outras histórias e fala sobre arte, teatro e muito mais. Com este personagem não é possível ficar na coxia, é preciso invadir a cena, descer na plateia e soltar o riso. Um homem da TV, do Teatro e do Cinema! Estamos em cena com Anselmo Vasconcelos.
RNT: É verdade que você queria ser médico?
Anselmo Vasconcellos: Eu queria ser médico... aliás eu quero ser médico (risos). Essa sim é a minha vocação. Sou apaixonado pela coisa da vida e do corpo humano.
RNT: E como começou essa paixão pela arte?
Anselmo Vasconcellos: Quando tava me preparando para fazer vestibular eu tive uma nova professora que começou a falar de teatro. Naquela época eu nunca tinha ido ao teatro. Eu ia muito ao cinema, morava em Bonsucesso e meu pai era amigo do dono do Cinema Paraíso. O fato é que eu estava de olho na professora fui atrás dela e a primeira coisa que me veio na cabeça foi falar que eu fazia teatro. Ela então pediu que eu fizesse uma apresentação. Dois amigos malucos compraram a briga, escrevi um texto e fiz tudo. Eu não sabia como...mas aquilo tudo estava dentro de mim. Quando terminou todos disseram que eu tinha que fazer teatro. A professora então me mostrou que o meu texto parecia inclusive com alguns textos portugueses de outros tempos. Ali eu descobri que tinha uma conexão com o teatro. Acredito no mergulho com o inconsciente. Somos todos conectores. Se fomos capazes de inventar e utilizar a internet... somos capazes de ser assim.
RNT: E se não fizesse teatro faria o que?
Anselmo Vasconcellos: Se não fizesse teatro estaria neste momento trabalhando em algum hospital.
RNT: E você acredita que o teatro é capaz de cuidar das pessoas?
Anselmo Vasconcellos: No teatro também cuidamos de pessoas...Eu acabo de ministrar uma oficina em São Carlos e escutei de um dos participantes que eu faço parte de uma legião de seres que seguem mudando a vida das pessoas. O que eu mais quero é acrescentar coragem e fazer a quebra de paradigmas.
RNT: Seu livro de cabeceira?
Anselmo Vasconcellos: O livro que mais leio hoje é o ator como Xamã, de Gilberto Icle.
RNT: A religião na sua vida?
Anselmo Vasconcellos: Passei a vida toda tentando esconder de mim mesmo que tinha uma formação espírita. Isso que se desenvolveu na minha infância e na adolescência tomou outro lugar quando participei da revolta dos estudantes na ditadura. Percebo que em determinado momento fui direto para o materialismo cientifico. Hoje ainda tenho preocupações cientificas, mas percebo que comecei a me desenvolver mais espiritualmente.
RNT: Tem algum fato curioso que apresente essa conexão na sua vida?
Anselmo Vasconcellos: Conexões com ideias. Pense que anos depois. Daniel Filho me chama para fazer o filme sobre Chico Xavier e quando chega na cena em que eu to com Angelo Antônio eu falo: - Você é um médium! E eu falei: - Eu disse isso mesmo? Conexões...
RNT: Você dá aula na Escola de Teatro Martins Pena...
Anselmo Vasconcellos: Trabalho na Martins Pena há 24 anos e eu nunca preparei uma aula. É uma égregora.... A sabedoria coletiva transmitida a outros seres. Dou aula de interpretação. Fui diretor eleito na Martins Pena e hoje faço ensaios de uma nova escola onde acredito em uma formação para o ator que é mais completa. Eu ministro aulas de interpretação mas penso que a formação do ator não pode ser apenas essa centralização da construção da personagem. Hoje a história e a dramaturgia ficaram em quinto plano. Antes de qualquer de construir a personagem vem a construção do ator. Qual a necessidade de representar e como você tem que se preparar para poder representar.
RNT: E o que te motiva a representar?
Anselmo Vasconcellos: O que me motiva a representar é o não representar. Eu busco a conexão, não a representação intelectualizada. A disponibilidade que faz com que eu possa me transformar em mensageiro, já dizia Peter Brook. Quando eu estreio uma peça eu tenho a sensação de que tudo aquilo já existiu. Tenho a ideia de que eu apenas deixei que o espetáculo se manifestasse.
RNT: E como você avalia essa nova geração de atores e autores?
Anselmo Vasconcellos: Existe uma ebulição, mas ainda não sei avaliar e nem quero... Em texto muita coisa com referencia, uma grande mistureba de tudo. Não percebo nada novo e original. É uma grande mistura de coisas que já acontecem.
RNT: Um fato que marcou sua vida?
Anselmo Vasconcellos: Tudo é muito marcante na minha vida. Eu sou muito agradecido a Escola de Teatro Martins Pena porque desde que cheguei ali que não paro de estudar e investigar. Foi assim que comecei a desenvolver um livro chamado “A Comédia, a arte da Irreverência” . Penso muito no preconceito com a comédia e porque se criticam tanto os comediantes. Fiz essa investida ao lado da jornalista Raquel Vilela e o livro será lançado no próximo dia 24 no CCBB ( Centro Cultural Banco do Brasil).
RNT: E a carreira...mais sorte, técnica ou talento?
Anselmo Vasconcellos: A carreira é mercado e ele precisa de atores. A TV Globo tem uma renovação extraordinária de atores. O Rodrigo Santanna mesmo trabalhava há 16 anos com lonas, teatros e no metrô. Hoje é ele quem comanda a audiência do Zorra.
RNT: E o cinema?
Anselmo Vasconcellos: Cinema é tudo na minha vida é o que me levou a conhecer o mundo. Sou premiado fora do Brasil e tive o prazer de concorrer e conhecer atores de todas as Américas.
RNT: Um conselho para quem pretende seguir a carreira de ator?
Anselmo Vasconcellos: Um conselho? Eu não dou conselho...Isso é muito careta. A vida vale pela investigação pessoal.
RNT: E as novidades para o segundo semestre?
Anselmo Vasconcellos: Este ano terei ainda muitas novidades. Espero continuar com meus workshops pelas cidades, vou rodar mais um longa com o Hugo Carvana “A Casa da Mãe Joana 2” e tenho ainda um projeto pessoal chamado “Longo Inverno”, um triângulo amoroso quando acaba o mundo...
RNT: Um recado para o público do Rio No Teatro que torce e acompanha seu trabalho.
Anselmo Vasconcellos: Eu agradeço demais pelo carinho das pessoas. Estou tendo muita coragem de lançar um livro que fala sobre comédia e isso é graças a força que recebo das pessoas. E que venham os tomates...minha função é provocar!