O Rio de Janeiro é palco da montagem brasileira do texto escrito por Eric Emmanuel Schmitt, com tradução e direção de Tadeu Aguiar. O monólogo conta a história de um menino de 10 anos chamado Oscar, paciente terminal de um hospital. Lá, ele conhece a senhora Rosa, uma idosa que visita crianças enfermas. Incentivado por ela, Oscar começa escrever cartas a Deus, nas quais descreve seus últimos 12 dias de vida. Dotada de imenso poder imaginativo, Rosa faz o garoto acreditar que, em apenas 12 dias, é capaz de viver as emoções de uma vida inteira.
Com o texto Miriam Mehler comemora seus 55 anos de carreira. A atriz que considera o trabalho um desafio, interpreta mais de cinco personagens. Entre uma sessão e outra conseguimos uma entrevista exclusiva com a diva dos palcos que tem conquistado o público em “Oscar e a Sra. Rosa”.
Miriam Mehler revela que o encantamento pelo mundo do teatro começou muito cedo.
“Meus pais me levavam muito ao teatro, isso quando eu tinha uns dez ou 14 anos. Vivíamos em óperas e eu ficava encantada com os personagens, as histórias, eu gostava de chegar em casa e ficar imitando, fazendo sozinha. Meu pai dizia que eu deveria ser advogada. Aos 16 anos eu disse que queria ser atriz. Meu pai falou que era pra eu prestar vestibular para direito. Eu fiz Escola de Artes Dramáticas. Os melhores diretores passavam por lá, eu passei na USP e logo tive direito de fazer os dois cursos juntos.”, diz.
“Eu fui trabalhar, na época não era bonito para a sociedade ser atriz. Fiz quatro anos de EAD, me formei no fim de 1957 e em 58 estreamos “Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri. Eu não sabia que essa peça revolucionaria o teatro, tanto pela linguagem quanto pelas questões políticas.”, conta a atriz que escreveu seu nome na história do teatro nacional.
“Na época o Guarnieri disse que ou daria muito certo ou então nós fecharíamos o “Arena” . Eu fiquei impressionada. Eu tinha o convite para trabalhar com o Sérgio Cardoso e o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Por sorte foi um grande estouro. Depois fiz peças no TBC e ainda tive meu próprio teatro. São 60 peças. “, revela.
Sobre suas personagens, nossa entrevistada é objetiva: “Saudosismo eu nunca tenho. Acredito que o trabalho atual é sempre o melhor. São muitas montagens. Eu posso dizer que tive a sorte de fazer 99% dos espetáculos que fiz com toda a paixão. Quando não concordava com a peça era difícil de fazer.”
"Gosto de fazer teatro porque ele chega nas pessoas. Toca as pessoas e elas saem de lá pensando. De alguma maneira isso mexe com as pessoas. Drama, comédia ou tragédia.Em “Oscar e a Sra. Rosa” , eu percebo que a plateia sai de lá muito mexida. Tenho tido um feedback muito positivo. O público vai se envolvendo...” afirma.
A atriz revela ainda o desejo de fazer um espetáculo de Eugene O'Neill.
“Muitas peças que leio e que eu quero fazer. Eu só quero fazer de fato, quando chega perto e vejo. Eu tenha muita vontade de fazer, por exemplo “Longa Jornada Noite Adentro” de Eugene O'Neill.”
Quando conversamos sobre a parceria de sucesso com o diretor e amigo Tadeu Aguiar, a atriz diz que se surpreendeu com a direção.
“Eu conheço o Tadeu (Aguiar) há 30 anos. Trabalhávamos como ator e atriz e há uns cinco ou seis anos atrás ele me trouxe esse texto. É um conto. O Tadeu me mostrou a tradução e era enorme. Logo depois ele começou a trabalhar o texto e disse que tínhamos o teatro. Assim estreamos “Oscar e a Sra Rosa”. Tadeu é um diretor sensacional. Tinha visto três peças dele, mas nunca pensei que seria um diretor tão maravilhoso. Eu achava que não ia dar conta, mas na medida que fomos ensaiando eu ficando mais tranquila.”, conta ao Rio No Teatro.
Com o sucesso da temporada Miriam Mehler só pensa em levar a montagem para todos os cantos do Brasil
“Tenho alguns convites em São Paulo para outras montagens, uma inclusive com o Odilon Wagner, mas ainda penso em “Oscar e Sra. Rosa em São Paulo e pretendo viajar bastante.” Afirma.
RNT: Uma frase:
Miriam Mehler :“Viva intensamente como se fosse o último”
RNT: Um conselho para quem está começando na carreira
Miriam Mehler : Só continue, se você amar o teatro, se você achar que você não consegue viver sem o teatro. A profissão é muito difícil, mas com persistência você vencerá todos os obstáculos por paixão!
RNT: Ator é mais talento, técnica ou sorte?
Miriam Mehler É um pouco dos três juntos. Uma mistura de talento, técnica e sorte. Depois é batalha e muito esforço.
RNT:Um recado para o público do Rio No Teatro.
Miriam Mehler: Eu gostaria muito que as pessoas do Rio No Teatro viessem assistir “Oscar e a Sra. Rosa”. Nossa temporada segue até o dia três de março no Centro de Cultura Laura Alvim. Eu prometo a todos, que apesar de ser um monólogo vocês vão viver a peça comigo. Você vai sair mexido com “Oscar e a Sra. Rosa”.
Por Alessandro Moura