Em cena com Felipe de Carolis
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Incêndios é um daqueles espetáculos que ficam na memória de quem prestigia o teatro, que perpassa gerações e entra para a história das artes. Com filas de espera na bilheteria de sua temporada carioca, a montagem repercutiu não apenas por contar com a incrível Marieta Severo no elenco, mas por apresentar outros talentos da cena. Este é o caso de Felipe de Carolis. O ator conta aqui alguns detalhes da produção,  fala sobre sua carreira, desejos e objetivos.

 

RNT: Como foi o inicio de sua carreira?

Felipe de Carolis: Entrei no Tablado com oito anos e lá fiquei até os 18. Estudei a vida inteira num único colégio: Santo Agostinho. Tive uma educação muito rígida, em família. Sempre levei todo trabalho que eu fazia muito a sério, dava um valor enorme a cada um deles, (e eu vivia sob a ameaça de ser proibido). Eu não consiga precisar "quando" começa a minha carreira. Neste período fiz muitos amigos, trabalhei com muitos atores e diretores que admiro, participei de praticamente todos os festivais de teatro, festivais de esquetes, por todo o Brasil, de Cabo Frio a Cariri - naquele esquema “cenário na mochila e equipe na estrada”.

 

RNT: Estamos nos tempos do ator produtor?

Felipe de Carolis: Adoraria responder que sim. Mas ainda falta muita gente querer isto.  A minha geração ainda não tem tanto este ímpeto que, me parece, era mais recorrente pós AI5, censores, etc. 

 

É muito difícil levantar sozinho um projeto de qualidade e cumprir (com sucesso) a  enorme jornada de conquista de viabilização e contração de equipe, que confie na sua aposta.

 

Sempre tivemos alguns expoentes desta dupla jornada ator-produtor. A mais próxima de mim é Marieta, que produz suas próprias peças e escolhe “o que quer dizer” desde a década de 70. “incêndios” foi a primeira peça, depois de mais de 40 anos, que lhe foi dada de presente e não escolhida por ela, mas mesmo assim ela fez questão se ser sócia, colocar a mão na massa (mesmo) e lutar pelo espetáculo que acreditava ser o ideal, como processo e resultado. Andrea Beltrão, Marco Nanini, Renata Sorrah, Gustavo Gasparanni são alguns dos grandes inspiradores que fazem isso desde sempre. Da geração acima da minha, temos o Pablo Sanábio ,Felipe Lima, a Camila Gama e sua Cia,  três atores-idealizadores que estão sempre experimentando com qualidade e apresentando novidades no cenário carioca. Os atores que idealizaram  e adaptaram “A importância de ser perfeito”, que foram meus amigos de infância no tablado, o Leandro Soares, O João Zappa, George Sauma,  são exemplos  também. Eles me dão esperança e vontade de estar junto. Apesar de a galera da minha geração, da turma dos 24/ 25 anos, estar um pouco recolhida ainda, acredito que isso possa estar mudando aos poucos, com tantos exemplos de projetos de jovens atores bem sucedidos, como um incentivo, ou uma chama mesmo. 

 

RNT: Como avalia o cenário teatral carioca hoje?

Felipe de Carolis: Há poucos teatros. A diversidade, nós temos. Do stand-up à tragédia, temos salas lotadas. Temos sido atrapalhados pela falta de estrutura dos espaços e pelos meios de transporte (transito) que dificulta o acesso e locomoção dentro da cidade.

 

O carioca tem a tradição da comédia e/ou musical (que eu também adoro e faço a vida inteira), mas assim como acontece em “Incêndios”, assisti sessões lotadas de “Quem tem medo de Virginia Wolf” e “Um lugar escuro” ano passado, e percebi que o público carioca esta ampliando o seu significado próprio da palavra "entretenimento", que para nós parecia estar, há anos, atrelada quase exclusivamente à risada.

 

 

“Tenho a impressão de que as minhas escolhas sempre foram pautadas na complexidade. Eu sou um admirador de composições, de atores que fazem personagens distantes de quem eles são na vida, então fico buscando isso o tempo todo. A zona de conforto nunca me interessa. ” Felipe de Carolis

 

 

RNT: Dos trabalhos que fez qual sente mais saudade e qual mais se destaca?

Felipe de Carolis: O que aconteceu no “Despertar da Primavera” provavelmente nunca mais se repetirá na vida de nenhum de nós. O elenco era de mini-feras, aquela legião de fãs, que tínhamos,  era a coisa mais linda. Eles cantavam todas as musicas, faziam flash mobs, sabiam sobre nossos personagens, queriam discutir sobre eles. “O despertar” injetou a fome de teatro num publico que não ia nem a cinema: os adolescentes. E vivemos o principal: o AMOR. Amávamos fazer, e nos amávamos. O amor que Charles e Claudio tem pelo que eles fazem e a qualidade e a fé no trabalho, eu trouxe pra minha vida.  Aprendemos muito com nossa heterogeneidade. Somos uma família, falamos diariamente, até hoje. Torcemos muito um pelo outro.  

 

O “Beatles num Céu de Diamantes” me fez cantar 50 musicas e não dizer nenhuma palavra. Além do super desafio de substituir dois solistas, tão competentes e mais experientes do que eu. 

 

"A Visita” foi minha despedida do Bernardo Jablonski, meu amado mestre que me deu  lições como professor, e depois diretor, que aplico todos os dias. Sinto muitas saudades dele.

 

“Acromático” foi um personagem  deliciosamente difícil de compor. Fiz um daltônico acromático, ou seja, o protagonista tinha uma doença (com pouquíssimos registros para material de pesquisa) que o fazia enxergar apenas em preto e branco. O universo lúdico teatral, sendo filmado, em supercloses, foi muito instigante. A parceria do Richard Riguetti e Pedro Riguetti, e minha colega Giulia Frota, que acreditavam tanto em cada loucura que meus olhos viam, foi fundamental e definitivo.

 

Em "Verdade Verdadeira" eu ganhei um prêmio de melhor projeto/roteiro na PUC, e quis realizar sonhos que tinha: contracenar com Leonardo Netto e dar de presente uma personagem pra uma grande amiga, Eline Porto. Fiz este filme como ator, diretor, produtor, roteirista e conheci Maria Fernanda Mello, que produz "Incêndios" comigo, é minha salva-vidas, minha parceira, a mulher de minha vida. 

 

RNT:Televisão, teatro e cinema. O que mais te atrai em cada um destes veículos, com suas respectivas linguagens?

Felipe de Carolis: Personagens com camadas infinitas e roteiros inteligentes sempre vão me atrair independentemente do formato ou veículo. Um diretor e/ou equipe de pessoas que admiro, vão me fazer querer estar em um projeto também,  sem dúvidas.Tudo pode vir a me atrair, acho. Sou formado em cinema.  Escrevi pra cinema e pra TV. Fiz pouco TV, como ator. Teatro, desde os oito. (Quase 17 anos, já).

 

RNT:Como foi o inicio da produção de Incêndios? Esperava essa repercussão?

Felipe de Carolis:  Árduo, solitário, e com todas as portas fechadas na cara. Foram três anos assim. Dos meus 20 aos 23 anos. Durante o processo, sozinho, é angustiante, mas hoje percebo que foi no tempo certo.

 

Consegui entregar e propor o projeto pra Marieta e Aderbal (Freire Filho) como eu queria: o texto traduzido, com direitos pagos. Era só correr pro abraço. O processo  de montagem durou três meses. Tivemos duas semanas de workshop com libaneses, professores de história, mitologia, tragédia e um bate papo com o Renato Galeno (de jornalismo da Globo News) para entendermos minuciosamente sobre a Guerra que tratamos. Mesmo que não falemos nem o nome do país em que estamos, na peça, fiz questão de propor este workshop para que todos tivéssemos certeza do que estávamos falando. Marieta e Aderbal se completam de uma maneira muito especial.  Sou apaixonado. São incríveis. 

 

RNT: Também formado em direção e roteiro. Tem outros planos nesta área? Quais os novos projetos para este ano?

Felipe de Carolis: Tenho muito “Incêndios“ ao longo do ano ainda. Produzindo e atuando. Estrearemos em SP em Setembro, na FAAP, e ficamos até o Natal. Mas vai dar pra fazer outras coisas sim. Tenho um filme pra fazer no segundo semestre. 

 

 

Entrevista: Alessandro Moura e Rodrigo Medeiros

Texto:Alessandro Moura




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