Por Branca Salgueiro
Clara Santhana já atuou em diversos musicais, um deles também uma homenagem a outro ícone da música brasileira: Noel Rosa. Mas, foi em Clara Nunes que ela, xará da cantora, encontrou seu papel mais gratificante e desafiador. Além do sucesso do espetáculo que propõe uma viagem musical pelo repertório consagrado na voz de Clara Nunes, a atriz teve, no início do ano, a honra, de representar a cantora no Desfile da Estação Primeira de Mangueira.
"Foi inesquecível. O samba enredo homenageava a mulher brasileira e a mulher de Mangueira. Era um samba forte, foi emocionante me vestir de Clara Nunes cantando num carro onde estavam outras grandes cantoras, como Alcione e Lecy Brandão. Gente que admiro muito, Carmem Miranda, outra que sou apaixonada, também estava representada no carro. É até difícil falar da emoção que foi..."
Coincidência ou não, a proximidade de Clara Santhana com uma das maiores intérpretes do país se dá exatamente por causa de Carmem Miranda. A atriz conta, que, quando criança era louca pela Carmem, muito pequena, queria usar saltos e balangandãs, como a "Pequena Notável". "Fui crescendo e essa paixão foi ficando adormecida. Quando decidi fazer o
Deixa Clarear, na pesquisa li que Clara teria tomado referências de Carmem. Inclusive gravou músicas que já eram sucesso na voz dela. Achei muito curioso...!"
Mas a proximidade da atriz com a personagem, não pára por aí, Clara Santhana é também apaixonada pelo Candomblé e pelos Orixás, assim como Clara Nunes, que, apesar de humanista, defendeu, através de sua música, a cultura afro-brasileira. Em tempos de Intolerância religiosa, como o exemplo da última semana, em que uma jovem do candomblé foi atingida por uma pedrada, o discurso de Clara Nunes, não poderia estar mais atual. Neste aspecto, o espetáculo, segundo a atriz, dá conta do tema de uma forma bem sensível:
"Acho que o
Deixa Clarear contribui muito para que essas questões (intolerância religiosa) vão se diluindo. É parte de nosso objetivo. Acredito muito no potencial da arte como cura para a sociedade. Quando Dindinha (irmã da Clara) assistiu o espetáculo em BH, ela falou o seguinte: "a Clara sofria muito preconceito, chamavam-na de macumbeira, e vocês trouxeram para a cena o afro como um clássico". Achei muito bacana isso que ela disse. Realmente, tratamos de uma maneira tão delicada essas questões na peça, que acho (e vejo) que é muito possível que as pessoas vão se abrindo para certos tabus, que são completamente rasos, por falta de conhecimento mesmo." - conta.
O musical, que não tem uma proposta biográfica, promete de forma intuitiva contextualizar e apresentar Clara Nunes para o público. "A peça fala da essência de Clara Nunes mulher/ artista. Tratamos de alguns pontos de sua vida que acreditamos ser fundamentais no nascimento da artista, como sua infância em Caetanópolis. Não passamos pelo pessoal e o que fazemos é cruzar nossa visão com aquilo que ela nos deixou com sua música. A peça é principalmente em cima do repertório; da importância da música para ela e de seus questionamentos artísticos e políticos."