O Duende Rumpelstiltskin

 

 

O Duende Rumpelstiltskin”, trata-se da encenação de um conto não muito popular, com uma construção de um teatro de Carroça, daqueles que artistas circenses faziam antigamente e ainda o fazem pelo interior, onde casais, famílias e trupes saem dirigindo ou levados por bichos e param de cidade em cidade, contando histórias e causos, sempre encenando de forma exagerada e muitas vezes com recursos de mágica.
 
Quando fui  assistir esse espetáculo, não me dava conta do que me esperava, sabia pelas críticas e pelo que amigos me contavam que se tratava de uma peça inteligente e que servia tanto para crianças, quanto para os adultos, tinha muita curiosidade de assistir até que fui e tudo que eu ouvi, pude corroborar.

Realmente a peça é muito bem montada, o texto de Daniel Porto é recheado de situações emocionantes, sensíveis e realistas, a magia se faz presente tanto na criação da estrutura  cênica, quanto nas mágicas que são executadas na nossa frente, impressionando crianças e adultos. A direção de Daniel Dias da Silva acertou em cheio nas marcações, nas inserções de iluminação que atua como personagem, "o Rei" e na sonoplastia, as manutenções de palco são muito bem marcadas, as entradas e saídas dos personagens são sempre muito bem ensaiadas e sempre com doses de ilusionismo. Assim como toda uma estrutura de troca de figurinos dos atores.
 
 Ao olhar assim parece estranho e quase impossível de se fazer uma história tá rica e cheia de detalhes, com apenas duas pessoas, um homem e uma mulher e ainda mais, sem cores, sem brilhos e sem um cenário de fundo. Mas aí é que todos se enganam, o cenário de Karlla de Luca, presença constante dessa equipe é um rico trabalho de pesquisa e de aproveitamento de espaço e também a contextualização da história com seu ambiente, os recursos cenográficos em cena são sempre muito utilizados, nada é disposto à toa, o que se tem é o que será usado, o foco é a história e o cenário, realmente funciona de forma conotativa, sendo apenas um espaço e fundo pra uma história ocorrer. Os figurinos ricamente circenses e também buscando os modelos bem rústicos de uma idade média são muito bem empregados e conduzidos também por Karlla.
 
A iluminação de Paulo Emygidio é sempre presente nesta trama, ela funciona para as marcações,  entradas e saídas dos atores e também passagem de tempo, tudo de forma sempre muito bem controlada e experiente. Quando ela se transforma em forma de personagem, nos dando a entender que é o rei, funciona em total parceria com o excelente trabalho musical de Tibor Fittel que usa como recurso de uma sanfona sendo a voz do "Rei". e por vários momentos a sonoplastia é ricamente trabalhada e explorada.
 
 A história é sobre uma família que teve a perda de uma esposa e também mãe, que deixou pra trás um pai e sua filha, bonita, nova e cheia de talentos em uma penúria sem fim. embora a pobreza fosse grande, o amor por essa família era enorme e pra não ver sua filha morrer o pai a entrega ao rei, mas pra isso acontecer ele mente que a jovem sabe transformar Palha em ouro, O rei aceita a menina mas a prende em um calabouço cheio de palha e uma roca e diz que se ele não transformar a palha em ouro que ela e o pai serão mortos. O pai envergonhado de tal destino cruel à sua filha, foge pra floresta e vira um mendigo arruinado e carregando uma forte culpa de saber que sua filha morreu por sua irresponsabilidade e mentira.
 
Porém, o que ele não sabe é que surge um duende pra ajuda-la e salvar a vida dela, gerando assim todo o enredo da história. Quam faz os papéis de Duende e de Pai é o multifacetado ator Alexandre Lino que sabe empregar características bem distintas e específicas à cada um de seus personagens, rico em gestos, trejeitos e entonações diferentes ele se utiliza de várias técnicas de respiração, contrações de diafragma e também recursos de caretas e expressões muito bem desenhadas pelo rosto do ator. Beirando o exagero muito utilizado nesse estilo de interpretação, mas sem descambar pro ridículo ou bobo, o ator constrói para si, um limiar bem seguro e definido, ele é leve e calmo pro pai e exagerado e agitado ao duende, tudo muito bem marcado e dirigido.
 
 Quem divide a cena com o talentoso Lino é a linda, simpática e muito carismática atriz Mariana Marciano, que consegue desempenhar um papel de cunho altamente dramático sem transformar a peça em algo pesado ou mesmo monótono, a sua mocinha é muito bem construída pela atriz e talentosamente ela se coloca em cena de forma triste, porém guerreira e com muita esperança e justiça, a capacidade da atriz em demonstrar fraqueza e força em situações tão adversas é uma coisa que me chamou muita atenção, ela sabe separar bem os momentos e em nenhum momento ficamos perdidos nas reais intenções da atriz. Seu aproveitamento corporal, assim como o de Alexandre é total e requer muitas marcações que devem ser seguidas à risca.
 
Os recursos de mágica na peça aparecem e sempre deixam todos extasiados e bobos com tamanha capacidade dos atores em repetirem diversas vezes alguns truques e não conseguirmos captar de que forma eles chegam naquele resultado, mas isso porque a história pede, já que o Duende é um ser mágico, não são truques bobos jogados em cena pra se preencher um espaço vazio, são recursos cênicos necessários e precisos pra uma compreensão da trama.
 
 As crianças do início ao fim curtem a peça, se emocionam de forma positiva, e interagem com a dupla o tempo inteiro, os atores, a todo momento forçam a aproximação com seu público, não de forçar a barra, mas sim de forçar momentos que as crianças voluntariamente se sintam ajudando e colaborando com a concretização e finalização das cenas. Alexandre tem uma forte veia cômica que ele coloca para fora quando interpreta seu Duende, ele trabalha sempre no nível baixo de cena, sempre agachado e curvado, nunca de pé ele mexe e gesticula muito, e suas piadas são sempre muito bem ricas e aproveitadas.
 
 A criançada gosta muito desses duende criado por ele, inclusive quando ele destrata o Bebê e o chama de Melekinho, fica o ponto alto da peça com certeza, assim como a mocinha que é ajudada em coro pelas crianças a tentar descobrir o nome do duende, eles perguntam aos pais e pedem pras crianças dizerem nomes, e eles reagem muito bem a cada um desses nomes de forma bem humorada e as vezes até irônicas.
 
Recomendo essa peça por vários motivos, pela inteligência de se utilizarem de bons recursos de luz e sonoplastia, pela maquiagem leve e muito bem preparada, pelo figurino muito bem confeccionado e experimentado, o cenário simples, mas com uma mensagem muito forte e objetiva, e pelo excelente trabalho de direção e atuação. Mas sem esquecer, que as crianças são valorizadas e essa equipe, sempre parte do princípio que quando mais instigarmos a capacidade da criança de raciocínio e compreensão, melhores adultos elas serão.

 

Por João Loureiro Filho
 
 
Temporada até 29 de março - Teatro dos Quatro
 

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
* Acesse a e veja também a opinião do público geral nos comentários.

 

 

 

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