Viagem à Tchekhov
Assistir o Grupo Galpão é sempre a expectativa certeira de um acontecimento teatral engenhosamente elaborado. E nas duas últimas semanas de abril o público carioca pode encontrar-se, mais uma vez, com a nova produção do mais famoso grupo de teatro do Brasil, que está em cartaz no SESC/Ginástico, com o espetáculo Eclipse – Livre Viagem à Obra de Tchekhov.
O espetáculo, que faz parte do projeto “Viagem à Tchekhov” que o Grupo Galpão realizou em 2011, apresenta o encontro de cinco pessoas que aguardam o final de um eclipse solar presas num mesmo espaço. Desse encontro, surgem todas as possibilidades humanamente realistas pregadas pelo dramaturgo russo em sua obra. O público, que está acostumado a ver o Galpão encenando peças esteticamente exageradas, encontra um espetáculo carregado de sutilezas, construído essencialmente sob o espírito tchekhoviano.
O texto, direção, cenografia e figurino foram assinados pelo diretor russo Jurij Alschitz, que para compor o espetáculo não economizou em nenhum elemento presente na obra de Tchekhov a fim de recriar uma sua dramaturgia para a contemporaneidade. A melancolia, a efemeridade, a vodka, as vibrações, as emoções, as longas falas dos personagens, enfim, tudo se harmoniza, sendo que, do início à metade, a peça se estabelece sob a força da palavra de Tchekov, mas do meio para diante, o espetáculo avança com ações e intervenção de elementos habilmente concebidos que, em razão e justamente de sua suposta superfluidade, estagnam a platéia numa ode à vida e à arte.
A interpretação de Chico Pelúcio e Julio Maciel são boas, mas o grande trunfo do espetáculo são as atrizes Inês Peixoto, Lydia Del Picchia e Simone Ordones, que trazem toda a força da dramaturgia de Tchekhov através de suas sutis e realistas interpretações.
É um espetáculo que experimenta, sobretudo, entre ator e platéia, a necessidade e a urgência que se têm da vida e da arte.