Espetáculo merece ser amadurecido
O clima e o incenso de fato pareciam transportar a plateia para outros tempos. A direção optou por um trabalho sensorial para receber seu público. Piano e violino bem posicionados, mobiliário de época na disposição de uma arena. Dois atores já em cena nos instigavam e na hora de escolher em qualquer lugar iria me sentar pensei: - Em qual canto dessa casa quero presenciar suas conversas, suas histórias... De fato, enquanto público me senti parte daquela história, pelo menos antes que ela começasse.
O texto de Rhommel Bezerra traz uma proposta interessante. A casa deixada de herança, que parece estar intacta começa a revelar segredos do passado familiar da personagem. Memórias, questionamentos e cartas que nunca mais serão esquecidas. Um triângulo amoroso que por mais clichê que possa parecer nos revela surpresas. No entanto o espaço entre o tempo das personagens não revela um período exato, porém o mesmo pode ser sugerido pelos figurinos e pela linguagem (principalmente). O texto abusa dos termos de época que remetem ao século X!X, sendo que o protagonista da história entra em cena com ares do contemporâneo. Vale ressaltar que mesmo vivendo no tempo do presente, este personagem mantém o estilo linguístico do passado (ou determinado por aquele passado). O mesmo não se reflete em suas ações.
Assinando também a direção e entrando em cena Rhommel comete um erro muito frequente, o de não dirigir os atores e nem a si próprio. O ator está perdido em cena com sua movimentação. Seu corpo não traduz as épocas (já que o mesmo interpreta pai e filho) e é difícil compreender o que se fala por conta da complexidade do texto. O sotaque é outra coisa que muito incomoda. Sem preconceitos com regionalismos, mas em cena tudo informa e fala é composição de personagem.
Robson Torinni se esforça e segura com firmeza sua personagem que em muitos momentos escapa por entre os dedos. O ator mostra força, mas está sem direção de cena (a meu ver apenas foram dados ações cênicas para preenchimento do espaço). Também é difícil compreender o que o ator fala, acredito que pela falta de uma assistência de direção ou preparação vocal.
Grata surpresa a atriz Karine Barros que dá vida a uma mulher amargurada que tenta segurar com todas as suas forças seu casamento. Em uma cena de beijo homossexual a atriz canta acompanhada dos músicos e atrai os olhares de todos encantados com a voz delicada e forte. Karine é uma grande promessa da cena teatral carioca.
A cenografia é rebuscada e foi muito bem pensada e elaborada. A iluminação possui uma boa proposta, mas sofre devido a condições do espaço. Um liga e desliga interminável que atrapalha a concentração dos atores e o envolvimento do público.
O figurino da montagem é interessante, mas é estranho ver tantas mudanças de roupa dos atores e nenhuma da atriz. Logo penso: - Apenas ela estaria presa no passado, em um único dia deste passado?
É interessante ver na cidade novas caras produzindo teatro. Pessoas que se esforçam para trazer outras histórias e realidades ao fazer teatral. É de suma importância o nascimento e o crescimento de grupos como o de Rhommel Bezerra. Com uma proposta cênica interessante o espetáculo merece ser amadurecido e voltar com nova roupagem ao circuito.