Exagero na interpretação de Gustavo Gasparani compromete montagem
A tragédia “Édipo Rei” de Sófocles se faz contemporânea na adaptação feita por Eduardo Wotzik. A montagem que segue em cartaz no teatro de Arena do SESC Copacabana coloca o público em cena, debate e faz com que cada um esteja próximo ao drama e aos conflitos de Édipo.
A entrada na arena é ao som dos tambores e lamentos das filhas de Édipo e Jocasta. Seu canto triste penetra no intimo da plateia que espera aflita o inicio do espetáculo. O teatro todo foi adaptado e valorizado, o entra e sai, sobe e desce de escadas... Wotzik brilha com a direção de cenas.
O figurino de Marcelo Olinto é impecável e é possível obervar detalhes de perto. A luz de Maneco Quinderé valoriza cenas e com o auxilio da direção musical de Marcelo Alonso Neves nos transporta a um tempo distante, enfim estamos em Tebas.
Um elenco com diferentes gerações e estilos de teatro marca esta nova versão da tragédia de Sófocles: Gustavo Gasparani, Eliane Giardini, César Augusto, Fabianna de Mello e Souza, Pietro Mario Bogianchini, Thiago Magalhães, Nina Malm e Louise Marrie, com participação especial de Amir Haddad e Rogério Fróes.
Após cinco anos afastada dos palcos Eliane Giardini reaparece no papel da Rainha Jocasta. A atriz tem poucas cenas e aparece apenas para abrilhantar a montagem. As mais belas cenas do texto original entre Édipo e Jocasta foram retiradas na adaptação.
Apesar de dinâmica e ágil o espetáculo peca com alguns equívocos de interpretação. Gustavo Gasparani que vive Édipo segura o personagem na garganta. A tentativa em se mostrar forte é cansativa e exaustiva para o público.
O diretor do grupo “Ta Na Rua” Amir Haddad tem sérios problemas de dicção e é difícil entender suas falas. Sua pequena participação compromete a compreensão de um momento importante, já que o mesmo desempenha o papel de “adivinho”, aquele que iria revelar a Édipo a verdade sobre seu passado e seu sangue.
Aplausos para Fabianna de Mello e Souza. A atriz consegue dar o tom exato para a tragédia de Sófocles sem exageros. Trabalho de voz e consciência corporal. Cenas lindas de uma personagem que representa o povo e costura a história.
O texto é de fato apresentado com uma linguagem acessível, mas não transmite emoção. A estética das cenas favorecem a compreensão e a opção em transformar o teatro na cidade do Rei de Tebas é o grande acerto da montagem. Muitas vezes o público tem vontade de responder as perguntas feitas pelas personagens.
É fato que Édipo Rei é um dos mais importantes textos da dramaturgia ocidental e um dos pilares da nossa cultura. A mãe de todas as peças merece ser vista e apreciada. Mas não se esqueçam de ler a peça na integra.