CRÍTICA | Além as estrelas são nossa casa

Direção peca e elenco apresenta inexperiência

Ao entrar no teatro me acomodei e logo me deliciei com o som do fado, a música portuguesa ocupava o espaço e ambientava o público para a primeira das sete histórias que seriam encenadas. O ator entra em cena e me dá o título da primeira história, o mesmo se repetiu com cada uma das outras. Na peça “Além as Estrelas São a Nossa Casa” a dimensão cotidiana da vida é sempre colocada em xeque.  As cenas buscam ressaltar a sensibilidade do dia a dia, muitas vezes com bom humor. Isso pelo menos é o que estava escrito no release da peça.

É incontestável a beleza da narrativa e a opção pelos textos de Abel Neves. Delicadeza e sutileza em cenas que deveriam provocar encantamento, fazer chorar e causar tanto sorrisos amarelos quanto gargalhadas profundas. Deveriam... Apesar do encantamento do texto, o mesmo não ocorre nas cenas.

A proposta de direção de Guilherme Delgado é estática, utiliza sempre os mesmos planos, não favorece a narrativa e muito menos o elenco que não aproveita o texto, suas nuances e musicalidades. Falta ritmo na peça, e é triste a solução dada para a costura entre uma história e outra. É o ator se colocando em cena apenas para dizer qual é o nome da história que será contada, porque muito se faltou para encenar. O mesmo se ajeita agora para entrar como personagem. Ai me pergunto: Se a proposta da direção de fato era contar o nome da história, porque não usar outros tantos recursos que o teatro oferece? A idéia de fato era mostrar o distanciamento do ator e da personagem? Mas para que? É o público sendo informado durante todo o tempo: Você está no teatro!

O cenário é composto basicamente de alguns acessórios , além de uma mesa e uma cadeira de madeira. Ponto positivo já que tudo é usual e nada está ali por acaso, mas como colocar uma mesa e uma cadeira de madeira para todas as encenações? Objetos que informam tanto mereciam uma base neutra, fossem brancos ou apenas pretos. O mesmo ocorre com os figurinos, todos com informações desnecessárias. Porque não optar apenas por uma cor de base para cada ator, já que o mais importante era a história? A iluminação é digamos...experimental. Muitas boas idéias e pouca execução.

O elenco é formado por um grupo de atores que apresentam uma inexperiência cênica absurda. Não consegui identificar personagens... raros os momentos em que consegui me prender  e visualizar algo. Apenas uma cena me inspirou, a de um profissional que fazia o famoso “ponto”, aquele profissional que dá deixas e direcionamentos para o ator que já está em cena. O ator entra em cena com sotaque português, trabalho de corpo e foco. Apesar disso é muito diferente encenar e mostrar que eu estou encenando. Problema que ocorreu com todos os atores.

É assim que sai do teatro: Com vontade de assistir teatro. Muitos questionamentos sobre a direção da montagem e sobre a direção de atores. A peça merece ser revisitada e repaginada. O texto promete momentos lúdicos brilhantes, os quais não vi. “Além as Estrelas São a Nossa Casa” remete a uma leitura dramatizada e não a uma montagem teatral.