A plateia repleta de crianças do Teatro Dulcina, no Centro do Rio estava atenta a cada movimento das personagens que foram sendo apresentadas uma a uma no palco. O espetáculo que demorou mais de um ano para ser concebido tem grande maestria na sintonia entre os atores da fabulosa Companhia do Gesto.
Voltar a ser criança ficou fácil com a montagem. Divertido acompanhar o trabalho de cena das atrizes e do ator que fazia todos os sons, desde o glomero das personagens até o jeito minucioso de seu andar. A linguagem dos desenhos animados foi adaptada para o palco e o resultado é risada na certa.
O release da montagem define bem a ação da peça. “Em cena, duas mulheres – a Dona do Restaurante e a Cozinheira (patroa e empregada) –, veem sua rotina de trabalho e sua relação cotidiana transformadas pelo aparecimento de um bebê à porta dos fundos do restaurante. Toda a ação acontece na cozinha, com as duas mulheres divididas entre atender os clientes, cozinhar e cuidar do bebê. Tudo regido pela enigmática figura de um maestro-sonoplasta, que executará as sonoridades em sincronia com a movimentação das atrizes.”
O espetáculo utiliza-se de máscaras criadas pela própria Companhia do Gesto para o desenvolvimento dos personagens durante o processo de pesquisa e criação cênica, incorporadas à maquiagem e ao gestual do elenco.
A montagem resgata a estética dos desenhos animados clássicos dos anos 40 a 60, baseada na ausência de diálogos e muita música e rica sonoplastia.
O figurino ajuda a contar a personalidade dessas mulheres, o bebê é de um carisma impressionante. É incrível o poder que um boneco pode ter em cena. Crianças e bonecos em cena são perigosos para o ator. É muita atenção que aquele pequeno bebê acaba atraindo...o resultado? Beleza e profundidade cênica na medida certa.
A iluminação favorece o trabalho dos atores e a cenografia e extremamente usual. Nada está ali por acaso.
Espetáculo que merece ser aplaudido, com um elenco primoroso que deixa a classe artística orgulhosa. Salve o teatro! Salve a Companhia do Gesto. Assistir “A Cozinheira, o bebê e a Dona do Restaurante” foi um grande presente e uma grata surpresa.