Um contexto histórico aplicado a uma historia infantil. Poderia ser complexo para uma criança. Porém, não é de hoje que podemos ver isso no teatro, na tv e no cinema. ‘O Jardim do Rei’ faz parte desse grupo de trajetórias históricas adaptadas para um universo de compreensão infantil.
A estória narra a chegada de D. João, fugido com a corte, no Brasil e a construção do horto real, hoje conhecido com Jardim Botânico, um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro.
“Essa é para começar” é o trecho de uma das músicas da trilha do espetáculo, que recebe o público para o seu entretenimento. Durante toda a peça, são interpretadas pelos artistas Ronnie Marruda, Negalê Jones e Gallotti, que usam diversos instrumentos, objetos sonoros e suas próprias vozes para o desenvolvimento da estória. Elas são alegres, divertidas e tem um apelo para a atenção das crianças que se divertem com a narrativa e as breves coreografias realizadas no palco.
A cenografia é bem simples, feita por Eduardo Andrade. Um pano de fundo com uma carruagem imperial, um guarda-sol sobre os músicos e o trono do Rei. Nessa carruagem é onde se realiza o teatro de bonecos, estes que se destacam na trama, onde os próprios atores colocam seu rosto e movimenta-os interpretando.
O Texto de Denise Crispun é bem conciso e, podemos dizer refrescante. Não pesa, não incomoda, mas também não satisfaz o público adulto. Sabemos que o espetáculo é voltado para as crianças, mas deveria ser atrativo para a família toda. Porém, em nenhum momento isso é perceptível para o público geral, e ainda assim consegue brincar com história do Brasil.
Falando dos atores e da intepretação, a caracterização dos personagens é muito divertida, partindo para um lado cômico sem muitas analogias de cultura pop já que apresenta um contexto histórico. Como destaque de personagem caricato, Juliana Martins conseguiu uma Carlota Joaquina cheia de trejeitos. Heitor Martinez, que interpreta D. João, está bem confortável no palco com o seu personagem, porém sempre que a atriz Olivia Torres entra no palco, não tem para ninguém: a ‘nega’ é humilde no palco e emana uma simpatia e um charme fora do comum para uma peça infantil.
O personagem do Ministro, interpretado pelo Beto Brown, tem seus momentos divertidos e alguns nem tanto. Ele também assina a direção da peça. Uma direção leve e despojada, sutil e bem marcada. Não, não é fácil dirigir um infantil, por isso, parabéns pelo trabalho.
A única coisa que pode incomodar o público é a dicção dos atores. Quando se senta ao fundo do teatro, espera-se ouvir bem o que está sendo falado no palco, mas os personagens possuem sotaque e, junto com o volume da voz, pode se tornar um pouco inaudível o que se fala no palco, dependendo de onde se senta.
A peça é divertida e entretém. Sair de casa no domingo para ver um espetáculo infantil às 16h, nem sempre é animador, porém, ‘O Jardim do Rei’ torna-se tão gostoso, que você ri e se diverte de forma bem singela. É complicado achar boas peças infantis, ainda mais com cunho histórico.
“Essa é para começar e também para terminar”, outro trecho de uma das músicas do espetáculo, nos leva a um final um pouco repentino, eu diria, mas nada que comprometa a obra. Como uma semente tão pequena consegue germinar uma arvore de expressão tão interessante? Essa é a questão do espetáculo ‘O Jardim do Rei’.