Um espetáculo arrebatador que surpreende pela simplicidade de um texto que consegue alcançar os corações e a alma da plateia. Identificação imediata com as duas estranhas que se tornam amigas de forma incomum. Para rir, chorar, se divertir e se emocionar. Uma montagem que não precisa de maquiagem, valoriza o elenco e os tons do texto assinado por Regiana Antonini.
A escritora e cronista Martha Medeiros é a grande fonte de inspiração com o livro “Feliz Por Nada. A peça ganha a adaptação assinada por Regiana Antonini. Uma pérola do teatro nacional que transita entre o humor e o drama com personagens tão criveis que poderiam facilmente estar sentadas ali naquela plateia. Há tempos não via em cena um texto tão impecável, daqueles em que não se tira nenhuma vírgula ou se acrescenta pontos finais. Tudo está no lugar e pronto para atingir em cheio quem se atreve a sentar neste divã de emoções. Colocar em xeque sua própria história, refletir sobre outras histórias, se emocionar e rir com as infinitas possibilidades que o universo nos oferece. Tudo tão trivial. Tudo tão surpreendente, por que falar do que é simples pode ser o mais difícil.
Escolhi começar 2014 com essa crítica teatral. Não apenas por se tratar de um espetáculo de grande qualidade, mas também porque acredito que o inicio de um novo ciclo para todos pode ser diferente após assistir e prestigiar “Feliz Por Nada”.
“Um espetáculo sobre a amizade, não da amizade que começa na infância, mas da amizade que surge no meio da vida, por acaso, e que passa a ser fundamental para o resto da vida.
Assim é a amizade de Juliana (Luisa Thiré) e Laura (Cristiana Oliveira). Elas se conhecem aos 40 anos e passam a ser inseparáveis após um episódio no aeroporto de Tóquio (Japão), quando Laura se perde das filhas. Juliana é quem a ajuda. Nasce, então, uma belíssima amizade que será posta à prova por causa de um homem, o Joca (Gil Hernandez).
Feliz por nada não trata de um triângulo amoroso, e, sim, da relação humana. O texto trata da mulher, em toda a sua complexidade: os medos, os sonhos, as insatisfações, as inseguranças, as realizações profissionais, o sexto sentido, a atração, a paixão e o amor.”
Uma bela sinopse que ganha vida nos palcos com um elenco primoroso e na medida. Não tem como não acompanhar cada detalhe em cena, cada virada ou cada expressão. Luisa Thiré, Cristiana Oliveira e Giz Hernandez estão impecáveis. Chorar e gargalhar com este elenco não é uma tarefa difícil, o complicado é conter as emoções na plateia.
A direção é do reconhecido Ernesto Piccolo, que mais uma vez faz uma parceria de sucesso com um texto de Regiana Antonini. Piccolo aproveita muito bem o trabalho dos atores e busca se apoiar no elenco para construir a história. Sem grandes artifícios a proposta é contar essa história de amizade verdadeira.
Os acessórios de cena são assinados por Clivia Cohen e o figurino pratico e usual é de Helena Araújo. Nada está ali por acaso e tudo ajuda no desenrolar da história. A luz que auxilia na transição das cenas e é de Aurélio di Simoni, a trilha sonora brilha com Rodrigo Penna.
Uma equipe afinada que se compromete com o teatro. É preciso ressaltar ainda o brilhantismo e a iniciativa da produção formada por Rogério Fabiano e Valéria Macedo, que prometem conquistar o público com outras grandes montagens de qualidade.
Aplausos muitos para todos que fazem parte desta produção que engrandece o teatro carioca.
Alessandro Moura- Jornalista