Texto de Jô Bilac é destaque
Como é prazeroso ir ao teatro e ver um espetáculo que preenche (ou seria esvaziar?), enfim, que de alguma maneira toca os sentidos do espectador. Não é por menos que essa é a sensação do público que vai conferir “Os Mamutes”, de Jô Bilac, que está em cartaz no SESC/COPACABANA.
O texto de Jô Bilac, todo afetado pelo universo rodriguiano e pelos romances de Agatha Christie, não deixa de ser maravilhoso e contemporâneo, pois não se contenta em apenas narrar uma história, mas, antes, propõe uma sucessão de fatos, não necessariamente lógicos – uma vez que a história se passa na fantasia de uma criança sádica – mas plausíveis e orgânicos. A peça, usurpando-se de elementos clássicos e fabulescos, reflete e critica o ser humano na contemporaneidade.
Na interpretação, o grande destaque fica por conta de Débora Lamm, que a todo instante rouba a cena com sua pequena “Isadora faca na ferida”, e apesar de se utilizar da caricatura infantil, convence com sinceridade, chegando a assustar as nuances que a atriz faz com a personagem adulta.
O protagonista Diogo Camargos fica completamente perdido e apagado em meio aos caricaturais personagens que se lhe apresentam, não conseguindo exprimir muita coisa além de boas lágrimas para um dramalhão mexicano. Outro que se destaca é Jefferson Schroeder, ao revezar alguns personagens demasiadamente estereotipados, mas que, no conjunto do espetáculo, funciona de maneira agradável.
Carolina Pismel é uma atriz de qualidade interpretativa, apresenta uma boa performance impecável, mas excede no modo gutural de falar, resultando numa rouquidão desagradável depois de algumas cenas.
A direção do espetáculo, assinada pela premiada Inez Viana, funciona de modo orgânico e fantástico, dando soluções arrebatadoras para o espetáculo de arena.
A cenografia é usual e clean. Apenas alguns elementos cênicos como uma cama e brinquedos fazem a composição das cenas. Uma bela estética, onde os atores transitam a vontade na imaginação da criança sádica. Fragmentos ajudam a reproduzir um ambiente americanizado. A iluminação colabora com precisão, construindo um ambiente claustrofóbico.
Por fim, “Os Mamutes” é um espetáculo que merece ser visto e aplaudido!