Jazz do Coração - Uma peça tocante!

 

 

“Jazz do Coração” traz a poesia de Ana Cristina César à pauta do teatro carioca com a sensibilidade, com a força e com a juventude que o texto merece. Com Françoise Forton e Aline Peixoto em interpretações bastante sensíveis, a peça tem direção delicada de Delson Antunes e belíssima trilha sonora original composta por Pedro Luis. O maior mérito é sua estrutura. Conhecedores da poetisa carioca, falecida há trinta e um anos, mas também aqueles que nunca ouviram falar de seu trabalho tem, nessa narrativa lírica, meios de entrar no texto, sentir seu sabor e de se emocionar. A peça está em cartaz na Sala Rogério Cardoso, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.

Um hit. A peça, que não é biográfica, faz apagadas referências à Ana Cristina César (1952-1983) a ponto de felizmente mais apresentarem uma personagem do que propriamente uma figura notória. O resultado é que a dramaturgia de “Jazz do Coração”, assinada por Delson Antunes, positivamente consegue atingir o público de todas as idades, mas também aqueles com diferentes repertórios culturais. Em cena, vemos duas personagens femininas de idades diferentes, dividindo a verbalização de imagens que refletem o medo e a excitação pelo desconhecido, a ansiedade por fazer algo grandioso versus o prazer das coisas simples, da solidão, do mundo interior. A direção de Delson Antunes dá a ver quadros complexos e de grande beleza, com símbolos que são ricos na articulação das cores, das formas, dos sentidos. A máquina de escrever, o mimeográfo, as malas, a estante, o metrônomo, o telefone de disco expressam não apenas um mundo anterior à internet, mas também um universo em que as individualidades eram tão valorizadas quanto os encontros reais.

Françoise Forton e Aline Peixoto deslizam pelo palco com suavidade. Não são parecidas, têm idades diversas, compartilham de grande beleza e de alto carisma. Essas qualidades favorecem a viabilização de uma narrativa que se estrutura de forma não-linear, pois o personagem de uma não é o passado da outra. Ambas estão juntas atravessando o mesmo tempo complexo, enfrentando os desafios da vida que se torna adulta. As palavras soam leves e claras, a proximidade com o público vira conceitual na medida em que é favorecida pela movimentação delicada e pelos gestos sutis. No elenco, tudo é convite para uma aproximação, quadro esse que positivamente se opõe à vida distanciada e virtual da contemporaneidade.

A produção tem como um de seus grandes destaques a trilha sonora. Com sete poemas musicados por Pedro Luis, a com direção musical e preparação vocal de Suely Mesquita, as canções inéditas são cantadas ao vivo pelas atrizes. O todo é muito sensível e delicado. Além disso, o espetáculo evidencia um tratamento sonoro de grande valor. O barulho da datilografia, o ponteiro do metrônomo girando, o giro do disco do telefone. Todos os barulhos pontuam não apenas um não-silêncio, mas participam efetivamente do quadro estético. O cenário assinado por Jeane Terra e a luz por Luiz Paulo Neném, ao lado dos figurinos de Carol Lobato, definem uma estrutura potente que é coerente com as intenções, mas também com o sucesso das realizações.

É comum associarem a poetisa Ana C. com a romancista Clarice Lispector (1920-1977) e com o contista Caio Fernando Abreu (1948-1996) por esses serem também escritores voltados para dentro, autores de uma literatura mais intimista. Idealizado por Françoise Forton e por Delson Antunes, “Jazz do Coração” é uma peça uma que fala baixinho, uma espécie de sussurro que, assim como afasta o silêncio, o valoriza ainda mais. Um espetáculo tocante!
 
 

Por Rodrigo Monteiro

Peça Jazz no Coração

Temporada de 18/08/2014 até 24/09/2014 na Casa de Cultura Laura Alvim

 

* Independente das críticas profissionais, sugerimos que assista aos espetáculos e faça suas próprias críticas.
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